'COISA' RARA

Sábado estava chovendo demais. Parecia que o São Pedro estava com raiva e resolveu afogar meio mundo com tamanha quantidade de água. Eu estava no estacionamento de um shoping, dentro do meu carro esperando um amigo a quem eu havia dado carona.

Você sabe, dias chuvosos sempre reservam uma cota maior de acidentes de carro em comparação com um dia normal. Um destes acidentes bobos que acontecem por causa de um dia chuvoso, e só por causa da chuva, aconteceu na minha frente. Assisti de camarote três carros baterem um atrás do outro. “Bum!.... Bum..... e.... Bum!!” Coisa pequena, é verdade, mas ninguém gosta de imprevistos, mesmo que sejam assim.

Até parece que tem gente que não percebe que o ato de dirigir requer muito mais atenção em dias assim. Fazer o que? O mundo da lua é bem aqui, pensei eu.

A reação dos três motoristas foi exatamente a mesma: ter um chilique dentro do seu carro. Nenhum deles obviamente saiu de dentro do automóvel por causa da chuva. Um deles xingou a mulher, o outro bateu a cabeça no volante e o outro buzinava irritantemente.

Até que o motorista do carro da frente, provavelmente por se sentir o mais injustiçado, saiu todo atrevido do seu carro e foi tirar satisfação do motorista do segundo carro, que nem abriu o vidro. O terceiro carro buzinava em ritmo de concurso de sonorização.

Nisso, o segurança do estacionamento do shoping chega de moto e junta-se a baderna, ainda debaixo de chuva e buzina.

O motorista do terceiro carro resolve encarar a chuva e sai do carro com celular em mãos, dizendo que ali não é lugar de brecar daquele jeito, etc e tal e que era advogado e conhecia o juiz da cidade. E o motorista do segundo carro trancado, como se nem fosse com ele. Enquanto os três batiam boca desgovernadamente ao lado do terceiro carro e tentavam chegar num consenso para achar um culpado, o motorista do segundo carro sai pé por pé do veiculo e espia o estrago no carro da frente. Ele tinha no máximo 16 anos de idade. Enquanto os outros continuam discutindo distraidamente por causa da raiva que envolvia os fatos, ele entra no carro numa corridinha sorrateira, gira o volante ainda com o carro desligado para não chamar a atenção ou fazer barulho, liga o carro (um Uno) e sai mais do que depressa (bem ao estilo Missão Impossível) para o desespero dos outros brigões, jogando água nos três.

Embarrados, molhados e enganados a única coisa que puderam fazer foi rir literalmente de si mesmos, entrar cada um nos seus carros abanando a cabeça num tom de ‘não acredito que perdi meu tempo’ e seguir seus caminhos.

Engraçado, depois de uns minutos meu amigo entrou no carro e quando lhe contei o que acontecera ele me chamou de mentiroso. Deve ser por que rir das ‘desgraças da vida’ é cada vez mais uma atitude rara.

Martins Filho
Enviado por Martins Filho em 13/06/2005
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