Maturidade

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Vai ver que é apenas mais um traço da personalidade feminina essa mania de ficar comparando – em prejuízo da comparada, é claro – suas próprias qualidades. Peso, idade, rugas, número de plásticas corretivas, suposta perfeição, nada escapa ao olhar daquela zinha que, com certeza, não tem mais nada para fazer... Talvez seja um pouco de indelicadeza, quem sabe haja muito de maldade, uma pitada de insatisfação, quiçá um tantinho de inveja, quem pode dizer? Mas, independente do motivo, é pratica corriqueira. Isso é.

O consenso social é de que apenas existe verdadeira beleza no viço da juventude. E isso é reforçado, por exemplo, nas peças publicitárias, as quais, com exceção das que divulgam os benefícios de alguns medicamentos que aliviam os males da menopausa, dificilmente trazem uma mulher mais velha como ilustração. Não há como negar: os jovens são belos, mesmo. São lisos. Têm pele túrgida, vigor, energia, um brilho maravilhoso no olhar! Mas a maturidade também revela uma beleza. Diferente.

Não raro escuto que seria muito bom voltar no tempo, ter novamente vinte, trinta anos porém, curiosamente, quem diz isso não abdica da experiência acumulada durante os anos que compõem a diferença entre a idade desejada na aparência e aquela da certidão de nascimento. Acho estranho, no mínimo estranho, para não dizer outra coisa. Embora longe de estar absolutamente afirmado, toda aquela beleza dos poucos anos serve para compensar muitas das carências juvenis.

Digo isso porque a maturidade trouxe-me uma única certeza: não tenho certeza de nada! Mas acho extremamente compensador e confortável sentir-me viva, saber agora o que quero, tomar decisões com segurança, poder sonhar e realizar meus desejos, não dar satisfações de alguns não que me aprazem dizer, poder fazer avaliações embasada em situações já vividas, sentir-me como uma frondosa árvore que permite abrigar e proteger – por vezes – tantos frágeis arbustos à sua sombra. Não quero voltar no tempo. Estou muito bem e feliz aqui mesmo e do jeito que sou...

Lúcia Helena
Enviado por Lúcia Helena em 22/09/2006
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