A COR DO VELUDO

A COR DO VELUDO

Maria Teoro Ângelo

A conversa corria à sombra das trepadeiras. Falávamos sobre insetos e procurávamos no gramado e entre os tufos de folhagens os olhos abertos no chão para onde as formigas estavam levando as folhas e flores que enfeitavam o beiral da varanda.

Cansada da luta contra as imortais formigas e lagartas, eu despejei meu desânimo sobre a pessoa que me ajudava, uma mulher simples e inculta, mas sabedora da arte de apreciar as flores, a ordem e o asseio que ficavam ao seu encargo enquanto eu estava fora.

Ela então, para me animar, contou que no caminho por onde ela passava todas as manhãs havia uma trepadeira sempre viçosa e florida. Eu me interessei e quis saber a cor dessas flores. “È da cor de veludo.” Assim, de maneira tão abrangente eu não poderia saber e repeti a pergunta, deixando-a desconsertada. “É da cor de veludo, mesmo.”

O diálogo parou por aí. Não podia humilhá-la ou constrangê-la. Eu havia entendido o que havia por trás dessa declaração tão vaga para mim e tão cheia de certeza para ela. Logo eu que passei a minha infância rodeada de fitas de veludo de todas as cores que minha mãe, competente modista infantil, usava como enfeite em algumas de suas criações. E quantos metros de veludo foram transformados em casaquinhos de gola redonda que vestiam as meninas ricas da cidade. Eram tantas as cores, que as clientes tinham dificuldade em escolher só uma.

Mas ela, criada na roça, sempre olhando para baixo para varrer o chão dos outros, ajudando a procurar formigas para ajudar uma insensível como eu, não tivera chance de conhecer todas as cores do veludo. Mas, com toda a certeza devia ter visto algum retalho desse tecido nobre e que jamais esqueceu. A cor da tal trepadeira era da cor de seu veludo.

Mas ela não desistiu da resposta e hoje me trouxe uma muda já plantada num vasinho, que logo se transformará numa trepadeira resistente e que vai enfeitar um lugar feito especialmente para que suas flores alegrem meus dias. As flores cor-de-veludo.