"Meu Nome é Mila e Sou Uma Gata" =Crônica felina=

Meu nome é Mila e sou uma gata. Não uma dessas mulheres bonitas que os homens chamam de “gata”. Sou uma gata mesmo. Uma gata de quatro patas, unhas afiadas, uma cauda grande, um tanto quanto desproporcional ao meu tamanho, e, garanto, também seria chamada de “gata” ou de “tremenda gatona” se eu fosse uma mulher. Sou linda e tenho mais ou menos seis meses de idade. Digo mais ou menos porque fui doada ao “meu dono” (isso é o que ele pensa, mas na verdade a dona dele sou eu já que é ele quem me sustenta, me fornece ração, leite, água, carinho, um canto quente pra dormir, e ainda arca com as despesas eventuais que lhe dou, tais como a castração para diminuir meu assanhamento natural.)

Quando cheguei a esta minha casa eu era branca, branquinha mesmo, da cabeça até a ponta do rabo, mas com o passar do tempo meus pelos foram se colorindo e agora sou tricolor e tenho as seguintes cores: branco, bege e marrom escuro. Para realçar minha formosura tenho um belo par de olhos azuis e a cabeça rajadinha de linhas pretas fininhas.

Desde que vim alegrar essa casa, logo na primeira semana, já disseram que sou assanhada, atrevida, folgada, intrometida, carinhosa, manhosa, sem vergonha, pilantra, teimosa, sarrinho, linda, safada, destemida, e outras coisas que não sei se são elogios ou críticas. Devem ser elogios...Só pode ser...

Além de mim, ainda moram aqui mais três gatas que são: a Nina (velha, muito gorda, e a maior come-e-dorme da paróquia), a Pupy, que é temida por ser “sangue-nos-óio”, e a Lady, que faz jus ao nome e tem a maior paciência comigo (aliás, é a que me bate menos quando eu a provoco. O que acontece todos os dias várias vezes ao dia.)

Aqui eu me divirto também com as duas cadelas: a Kika, velha, mas forte e simpática demais da conta (esse "demais da conta" é influência mineira que tenho recebido) e a Tuca, meio porra-louca mas ótima pessoa, digo, cadela. Tão boa que me defende quando o Bill, o único bicho macho da casa, resolve morder uma de minhas pernas porque não dou a mínima bola pra ele. O idiotinha não entende que gata e cachorro não se misturam.

É legal morar aqui apesar da liberdade cerceada. Todas as janelas do apartamento têm rede de proteção e só podemos, eu e as outras gatas, olhar a vida através delas. A vantagem maior é que a gente, digo, nós, as gatas, não conseguimos fugir pra rua, sumir de repente, correr risco de atropelamento ou de uma adoção nova e não solicitada, nem das pavorosas possibilidades de virar churrasquinho ou couro de tamborim.

Diz o casal que me orienta que sou a mais danada e diferente da turma. Eu era o único bicho da casa que subia nas mesas da sala e da cozinha e desfilava tranqüilamente fuçando em tudo. Até que o homem que pensa que é meu dono ter a infeliz ideia de comprar um daqueles espirradores plásticos de água. Tenho pavor daquela esguichada e mal ele aponta a coisa eu sumo em fração de segundo. Vá molhar a mãe, pô!!

Coisa bem divertida é esperar a gatalhada dormir e sair batendo na cara de uma por uma. Em menos de um minuto elas me encurralam em um canto qualquer e me descem o cacete até que alguém as tire de cima de mim no grito ou na jornalada. Ou então que a Tuca chegue e faça todo mundo correr. Minha protetora é dez.

Andei quebrando algumas coisas da casa logo que cheguei. Mas não foi por maldade. Foi só pra ver até onde ia minha liberdade, o quanto a casa era minha. Levei algumas corridas, passei alguns sustos, tive que me esconder até a tempestade passar algumas vezes, mas no final acabou tudo bem e perdeu a graça jogar as coisas no chão. Agora acho isso coisa de criança. Depois que entrei no primeiro cio estou me portando mais como mocinha. Acho eu.

Minha única queixa é não poder entrar no quarto do casal que me cria. As outras podem. Eu não. Sacanagem isso...Só porque distribuo umas mordidinhas de leve em pés, dedos, traseiros, orelhas, eles me excluíram do quarto e tenho que dormir no canto quentinho que fica atrás do sofá. Ainda bem que a Lady, sempre solidária, resolveu me fazer companhia à noite.

Por falar em Lady, eu e ela costumamos fazer um rally depois da meia-noite. A gente “voa” por cima de todos os móveis, entra derrapando no corredor, volta a cento e vinte do banheiro, pula para a janela e, quando o cansaço bate, nós simplesmente paramos de vez e dormimos. Ou então, só pra encher o saco, ficamos arranhando a porta do quarto do casal até que o homem se levante e nos faça dar mais uma corrida. Das boas.

Aprendi até a lidar um pouco com informática: se alguém se distrai no computador e não me vê chegando, em um segundo eu desconecto alguma coisa e o bobalhão pensa que foi a tal de Net que caiu e sai xingando. Sei também desligar o computador pisando no teclado, mas isso é mais arriscado porque sou pega no ato e jogada pra fora do escritório. O bom é que sempre caio em pé e não sou jogada com violência. O pessoal daqui me adora. Disso eu tenho certeza.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 06/09/2010
Código do texto: T2481834
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