É pra frente mãe!

Rosa Pena


Ele fez do Miguel seu melhor amigo. No seu aniversário de três anos fez a mais absoluta questão que o amigão soprasse as velas do bolo, lado a lado. Com o Miguelito ele não tinha nem aquele egoísmo sincero que só se tem na infância. Dividia tudo com seu parceiro inseparável e até concedia o melhor lugar para ele ver o Pernalonga na TV, tamanha a consideração. A creche era para filhos de militares, então era um tal de entra- e -sai danado de crianças. Acabado o tempo de serviço naquela base, o adeus em forma de tchau era dado.

Eles foram se acostumando a perder os amiguinhos de vista, sempre ouvindo dos pais que o tempo deles aqui havia acabado. Era hora de mudar de escola, de lugar. Quem sabe algum dia não iriam se reencontrar?

Ano passado foi à vez do Miguel ir. A mãe percebeu pelo seu rostinho, as lágrimas engolidas na despedida, a falta danada que o amigo ia fazer, e a sua coragem silenciosa em tocar pra frente a vida, apesar da ausência do companheiro.
Essa semana seu avô materno morreu. A mãe não parava de chorar na missa.
De repente, bem de mansinho, ele chegou perto dela e disse:
- Ele mudou de escola, pois o tempo dele aqui acabou. Agora está em outro lugar.
Quem sabe algum dia você não vai encontrar novamente o vovô?
Ela parou de chorar e olhou para ele com orgulho.A vida nos faz perder tantas coisas, mas também nos faz ganhar outras tantas.

É só uma questão de inverter o olhar detrás para frente.


2005
foto Felipe / meu sobrinho-neto
Rosa Pena
Enviado por Rosa Pena em 15/06/2005
Reeditado em 12/05/2017
Código do texto: T24884
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