O VERÃO E A ROUPA SUJA

"Só o teu verão eterno não se acaba". Para Shakespeare, poesia; para nós, martírio. Hoje é dia 17 de junho e o inverno ainda não deu as caras. E sabe-se lá Deus se dará.

Quando eu era criança gostava de desenhar as quatro estações. Até porque elas existiam. Desenhava a primavera muito florida, o verão bastante ensolarado, o outono todo dourado e o inverno bem, bem gelado, se é que se pode desenhar o gelado... (para você, um chapéu; para mim, uma serpente que engoliu um elefante).

Aceito que essa temperatura amena seja agradável. Mas a umidade quase não dá para suportar. Aceito também, é claro, que para quem não tem uma casa ou a tem sob parcas condições é ótimo que o inverno realmente não chegue. Mas a natureza tem um ciclo e esse ciclo rege o equilíbrio do mundo. E o equilíbrio do mundo rege a vida que há nele.

Porém, vivemos um tempo em que o desequilíbrio coordena o rumo de nossas existências. Constatamos no verão eterno, reafirmamos em Brasília. E o que diabos está acontecendo em Brasília?! O de sempre, ora bolas. Roubalheira, sacanagem, sem-vergonhice, falta de ética. Qual é a surpresa? O caos.

A Natureza em caos, a política em caos, o povo atônito. Cada vez que dá um "quebra-pra-capá" desses, nossas respirações ficam em suspenso. O que vem por aí? Temos medo de uma hecatombe ambiental. Temos pânico de uma hecatombe governamental.

Bem, estamos certos em ter medo. Mas só meio certos. O caos é o limite, é o ápice; a partir do caos ou tudo se ajeita ou se detona de vez. Cinqüenta por cento de chance pra cada lado. O caos sacode o que parece estagnado e torna possível o recomeço.

Esperamos atônitos que o inverno chegue porque não sabemos desenhá-lo sem ser gelado.

Esperamos atônitos que a roupa seja lavada porque sabemos que muita água suja ainda vai escorrer por aí.

Mas quem sabe, de tanto lavar, um dia limpa.

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Mulher de Sardas
Enviado por Mulher de Sardas em 17/06/2005
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