Nem um minuto a mais, um momento a menos

Nada é tão determinado como o dia: 24 horas exatas, nem um minuto a mais, um momento a menos, nada fixo, entrementes, apesar do antes, dos planos, do projeto de poema sem inspiração, do bom dia repetido na padaria, dos barulhos todos e de um silêncio perfeito inexistente.

O dia é assim, determinado. Quem quiser que nele se ajeite, beba seu leite logo cedo, ou um café preto, manteiga no pão, um beijo e um até breve, sem saber direito se tem volta ou o que a roda do destino aponta. O próximo passo, em falso? O ocaso dos fatos, o que diz o horóscopo...

O tempo será suficiente para todos realizarem seus sonhos. Será que chove ou neva logo mais. O que esperar do próximo instante? O crime, o atentado, o artista que se separou, o navio que afunda e o avião que decola? Uma pesquisa sonda o futuro e no muro do lamentos uma fila imensa.

O dia é incerto, isso é certo: a criança que vai à escola e leva um tiro, o que a mídia dirá que é importante, sei lá. Eu vejo um rio sem navio, lento, colhendo dejetos e objetos em desuso de uma cidade imensa, intensa, guardada em sua gavetas de concreto, apesar da música, dos porta-retratos...

Nada é tão exato como um dia e nele tudo cabe. Para cada qual um objetivo e 24 horas para tudo dar certo, nem um momento a mais, um instante a menos, um caos para se organizar, de qualquer jeito de toda forma. Tudo me parece incerto mas não há tempo para dúvida, tudo já se levanta com seus barulhos.