OS BEBÊS DE ANINHA

Aninha coçou o umbigo, fez careta e esticou a barriga arredondada.

“Manhê! Manhê! Tô com bebê na barriga!”

A mãe já esperava tais reações. Destronar uma filha única tem conseqüências inesperadas. O pediatra, a sogra, a pedagoga... Todos já haviam avisado...

É apenas uma questão de tempo para a criança demonstrar sua ambigüidade em relação ao outro!

Acariciou o rosto da filha com aprovação e sorriu com timidez. Aninha levantou o vestido e mostrou seus bebês desenhados ao redor do umbigo.

“Tão aqui! Marcus Vinícius e Maria Anita! São dois, mãe! Um menino e uma menina! Eu mesma que fiz...”

A mãe olhou a pintura na barriga de Aninha: desenhos infantis com corpos de riscos e cabeças redondas. Grandes olhos e sorrisos, coloridas roupas... Um monte de formas criadas com canetinhas.

“Eles estão vestidos?”

“Claro, né, mãe! Queria que eles nascessem pelados?”

As crianças têm o dom de desconcertar os adultos. Todo mundo nasce pelado, mas os bebês de Aninha estavam vestidos... A mãe mudou de assunto, tentou mostrar naturalidade. Não sabia como continuar a abordagem. Gravidez, bebês...

Até onde iria a criatividade de Aninha?

A mãe acariciou a própria barriga. Interiorizou sua atenção no ventre. Daniel marcava presença... Retornou aos preparativos. Nove meses... A qualquer momento poderia ser surpreendida por um movimento intenso, uma contração...

A gravidez preenche a mulher de contradições: ora ela quer a continuidade da barriga, ora, ver a criação no mundo amadurecer...

De repente, Aninha desatou a chorar. A mãe correu até o banheiro e encontrou a filha aos prantos encostada na banheira do bebê.

“Eles sumiram! Fui dar banho e eles sumiram...”

A mãe, sem entender, abraçou a filha.

“Mamãe tá aqui... Eles, quem?

“Meus bebês, mãe! Olha...”

A mãe percebeu que o desenho havia se diluído na água e que restou apenas um borrão de tinta na barriga molhada. Como explicar para Aninha que seu desenho apagou se o que ela elaborava era a maternidade de dois bebês no sonho infantil?

“Nasceram, filha! Os bebês não ficam para sempre na barriga.” A mãe falou sem muita convicção. Ela também nutria sentimentos diversos em relação ao ventre. Um instante apenas e sua barriga também seria apenas um borrão, um rascunho de um menino no mundo, um sonho entranhado em realidades...

Uma intensa luz nasceu nos olhos de Aninha. Ela correu em seu quarto e pegou dois bonecos. Voltou com passos cautelosos e com um sorriso sereno.

“Manhê, não fala alto! Vai acordar meus bebês.”

Aninha deitou os bonecos na cama, cobriu-os com seu pequeno cobertor e cantou uma cantiga de ninar. A mãe, contagiada com o prazer da filha, sentiu as primeiras contrações...

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 18/06/2005
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