Delírio.

Os desconfortos causados por uma gripe me lembram Drummond. O poeta falou sobre essa chatice em uma crônica que li há muito tempo. Só mesmo Drummond para transformar coriza, mal-estar, tosse e febre em algo inesquecível.

Recordo que li esse texto na casa de Ponta Negra, quando esta ainda era praia de veraneio e não um bairro ao fim da Via Costeira.

Não estou depreciando Ponta Negra. Longe de mim tal feito. É impossível reduzi-la. Estão fazendo uma campanha para que os natalenses voltem a frequentá-la, pois hoje é mais visitada por turistas.

Na semana passada prendi a respiração como sempre ao chegar lá. Continua linda, mas não é a mesma da minha infância. Também eu não sou a mesma. Ponta Negra se transformou lá e eu cá. Muitos sonhos ficaram entre as areias e as águas mornas daquele mar. Muitos vieram depois. Alguns realizei em outras costas. Uns resistem.

Há um caminho diverso para chegar a Ponta Negra e nele vejo os Ipês. Adoro Ipês. Nessa época do ano eles florescem em amarelo, roxo, branco e rosa. Escapam sobre os muros e eu me encanto. Transgridem lindamente e meus olhos festejam.

Lacrimejo. É a gripe que insiste em se fazer presente quando eu tento fugir dela escrevendo sobre coisas que gosto. Minha cabeça pesa. Preciso ficar boa logo. A culpa é do clima.

Minha filha me fala em um Buganville. Buganville não é Ipê? Não sei, mas parece ser. Em Lisboa tem Jacarandá. Na praia da Pipa têm Ipês. São lindos. Os caules são diferentes, mas as flores são iguais. Ou quase. Sou péssima em botânica. Podem falar. Vou perguntar a minha mãe ou a tia Socorro, que tem um jardim lindo. Elas entendem de plantas. Eu só entendo de sonhos.

Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 09/11/2010
Código do texto: T2606303
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