Bodas de quê mesmo?
Quando chegaram os primeiros buquês; 7 buquês de rosas vermelhas; rosas "príncipe negro" como eram chamados, as mais belas; de um vermelho intenso, quase vinho, acompanhava um cartão: 21 anos não são 21 dias.
Primeiro o susto, 7 buquês enormes de uma dúzia de rosas cada um, e fez um volume enorme tanto no balcão quanto aos olhos, dela e de quem viu o moço da floricultura descarregar. A alegria estava estampada nos olhos da bela mulher, que brilhavam; pudera, depois de tantos anos o marido ainda se declarava à moda antiga, com um jeito de fazer inveja à qualquer Julieta.
No meio da tarde eram mais 7 buquês que enchiam o ambiente de novo, para a surpresa de todos; caramba, que marido apaixonado! O bilhete dizia: 21 anos, não são 21 meses. O perfume já tinha tomado conta de tudo, e foi preciso comprar baldes pra acomodar tantos buquês, agora espalhados para todo lado.
A essa altura já se esperava mais 7 buquês, pra completar a declaração do exótico e amoroso marido, e o pequeno ambiente de trabalho virou notícia na rua. Com a chegada do últimos 7 buquês, o pequeno comércio tão sóbrio, ganhara ares de uma pequena floricultura. Não podia ser de outra forma o cartão novamente apaixonado declarava: 21 anos são 21 anos! e a assinatura do maridão ali, arrancava suspiros da toda boba mulher.
Encheu o carro de todos aqueles enormes buquês e seus baldes e foi pra casa; nada de especial para jantar, uma pizza em família, e uma esticadinha num motel de luxo pra fugir da rotina.
Não muito longe dali, 30 anos não seriam comemorados, os 30 anos que chegavam juntamente com o inverno. Haveriam alguns telefonemas pra lembrar, mas nem uma rosa, nem uma pizza e nem mais a família reunida pra rir alto e contar os micos do dia a dia.
Fechavam cada um a porta do seu quarto e fazendo de conta que não lembravam mais aquela data; iriam dormir cada um com as suas lembranças, não tinham mais intimidade pra comemorar tais bodas.