Aniversário do meu sogro

Milton Guerrieri Brigagão, meu sogro, completou a incrível marca de 93 anos. Ele não é francano de nascimento e nem recebeu da câmara de vereadores o título que lhe conferiria a honra. Mas quem mora ali mais de dois terços destes quase cem, já se declara tão ou mais francano que a maioria de nós.

Seu pai, sr. Amadeu Amaral Brigagão, também veio para Franca com a família e por muitos anos “clinicou” na sua farmácia, ali “pertinho do Coronel”: seu endereço prescindia das referências normais de nome de rua, número, etc. Era farmacêutico e muita gente ia em busca de seu aconselhamento para achaques e doenças. Do pai, Milton herdou um monte de qualidades. Vô Amadeu nunca se conformou com modernidades. De nota promissória, por exemplo. Corriam os anos 80 e ele ficou profundamente ofendido quando um representante pediu-lhe que assinasse uma, para garantir o pagamento do seu pedido. Ele disse que devia e pronto. Que pagaria. Ele dava seu fio de bigode. Milton herdou essa seriedade e passou para os seus, igualmente, um monte de qualidades.

Nossa convivência já passa de quarenta anos. Desfrutei de sua companhia mais tempo que passei com meu próprio pai. Portanto tenho algumas certezas. Não houve pai mais amoroso, não houve avô mais carinhoso. Não houve tio que se preocupasse mais com os sobrinhos. Quando os filhos resolveram que se voltariam profissionalmente para a indústria de calçados, ele endossou o desejo e abriu o coração e o bolso para realizá-lo. Deu tudo que tinha de valor como garantia, deu seu nome como avalista, deu sangue, suor e lágrimas para a viabilização do sonho. Sua tranqüilidade hoje atesta que nunca esperou recompensa alguma. Talvez por isso não cobra nada de ninguém. Fez e pronto.

Dia 11 de abril estávamos em volta do bolo, cantando para ele, desejando-lhe felicidades pelos noventa e quatro anos de vida. Filhos, noras e irmão, presentes. Na fotografia, os netos, esposas e bisnetas. Ele sorriu, olhou para todos nós, seus olhos se umedeceram, ele abriu um sorriso imenso e declarou estar muito feliz, ali conosco. Ele nem imagina o quanto nós, do lado de cá estávamos orgulhosos dele.

Lúcia Helena
Enviado por Lúcia Helena em 14/10/2006
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