São apenas corpos...

Os funerais são muito importantes, aliás são ótimas oportunidades para uma pausa e reflexão, mas no fundo mesmo é bobagem (bobagem pra mim é algo desnecessário, claro que há quem discorde quanto à “desnecessariedade” dos funerais).

Esse ritual de enterrar os mortos vem de milênios de anos atrás, as provas mais comuns são as múmias egípcias; quem nunca ouviu falar de múmia... as criancinhas que o diga; mas é claro que não eram apenas os egípcios, em várias culturas antigas a mumificação também era muito comum.

Há algumas décadas atrás foi encontrado um corpo de uma mulher no oriente, os cientistas ficaram impressionados com o estado de conservação do corpo; na tumba havia dezenas de utensílios das mais caras cerâmicas da época; com certeza era alguém importante, o motivo desses artefatos estarem juntos ao redor do corpo, é que eles acreditavam que havia uma vida após a morte, e o estilo de vida de uma pessoa poderia ser mantido mesmo após a morte, isso incluía todos os tipos de objetos pessoais, até mesmo dinheiro; não queriam passar a eternidade na pobreza, e desenvolveram técnicas de conservação de corpos porque achavam que precisariam dele no desconhecido.

Claro que como bons e fieis humanos que somos, em nossa historia não poderia faltar o momento negro; na Europa durante a idade media, os mortos eram empilhados em cemitérios a céu aberto; como se fosse um “lixão” de mortos; talvez pelo fato de que as mortes eram muito freqüentes, doenças, pestes, guerras... não sobrava tempo para um funeral para cada pessoa que morria; claro que quando alguém da realeza falecia, tinha todo um ritual, o mais comum era cremar os corpos.

Voltando a importância dos funerais, por que enterramos os mortos e fazemos toda uma encenação de lágrimas e lamentos?

Bom... como se fosse a despedida, uma ultima interação com a pessoa falecida, um momento de verdade e realidade, um recado de que a pessoa se foi e é a hora de aprender a conviver com isso, ou ao menos tentar superar... na realidade os funerais são um recado não para eternizar a pessoa em mente, e sim para “esquece-la”, “Sim ela morreu, é fato vai viver sua vida, não há nada que se possa fazer para reverter isso”.

Os parentes de vitimas de seqüestros, onde esses jamais são encontrados vivem uma angústia crônica, após anos do desaparecimento, no fundo sabem que a pessoa já morreu, mas não querem acreditar, um fio de esperança fica perturbando a mente; em casos de encontrar a ossada anos depois do fato, essas famílias fazem questão de fazer um funeral para o ente querido; depois disso sentem um alívio e tentam viver suas vidas da maneira mais normal possível.

O que eu acho disso tudo...

Achei perda de tempo o que soldados da FAB fizeram, jogaram rosas e colocarem uma imagem de santo no local da queda do avião da Gol; claro que foi uma tragédia lamentável, e não estou querendo menosprezar as vitimas, mas o fato é que: infelizmente o avião caiu, aceitem isso, essa demagogia de jogar rosas não trará ninguém de volta, tampouco preenchera o vazio que cada um deixou em suas famílias, mas isso volta ao que citei acima, a importância das cerimônias, claro não passa de um padrão.

Antes temia a morte, agora já “aceito” a idéia. Porém, não vejo os funerais como algo essencial, são apenas corpos, toda essa cerimônia de “encomendar” a alma, é algo fútil; enterrar o corpo então é um desperdício de área, apesar de que os cemitérios são lugares aconchegantes, um ótimo lugar para se passar alguns momentos refletindo sobre a nossa existência, mas essa idéia de decomposição é nojenta, saber que tem um corpo embaixo de nós se decompondo é repugnante.

Pior seria se ficassem à vista, ainda bem que existem microorganismos que se encarregam da decomposição e os carniceiros, abutres! Claro que não estou sugerindo que deixemos os corpos à mercê dos urubus; longe disso, mas sim de queimarmos os corpos, sem funerais nem cerimônias, nada disso; as cremações deveriam ser feitas nos próprios hospitais e necrotérios, assim que diagnosticados os óbitos; então as cinzas seriam entregues aos familiares, onde esses fariam o que “quisessem” com o que sobrasse do falecido, imaginem quanto espaço seria economizado se ao invés de corpos fossem enterradas urnas com cinzas.

Mas claro que para esse padrão ser mudado, é praticamente impossível nos dias atuais, quem sabe em um futuro não muito distante, quando a religião estiver enfraquecida e a racionalidade tomar a mente humana, então todos entenderão:

São apenas corpos...