POVOADO DOS URUBUS

Lá pelas bandas do rio, bem perto da serra, onde existe o Povoado dos Urubus, nome este que nasceu pela grande concentração de urubus na época do verão.

Joana, uma bela jovem, morena, de olhos tão negros. Seus cabelos eram bem grandes, dos quais se assemelhavam a “Iracema, de José de Alencar”, boca pequena e sensual, lábios carnudos e vermelhos, corpo esbelto que mais se confundia a uma miss universo.

Jovem, ainda, mas tendo um grande sonho de ter um bom marido.

Todas as noites, debaixo de um abacateiro, ia encontrar-se com seu amor. Felipe, o nome deste jovem trabalhador na agricultura. Possuía várias juntas de boi, duas propriedades que eram plantadas com milho e café. Produzia leite, tinha trator e camioneta. Muito bom, mas quando ficava nervoso diziam que até mordia nas pobres vacas. Isto foi narrado por Joana.

Joana, muito atraente, sempre queria desfrutar de seu amor. Felipe, um pouco tímido, não gostava muito do comportamento de Joana. Ela queria namorar muito, mas Felipe queria ficar na dele e diziam algumas pessoas, que ele não era muito chegado a mulher. Namorava por namorar, mas gostava muito da solidão e de beber com os amigos.

Foi Pedro que disse existir um boato, onde Felipe era amante do “ Tião da Laza”, um meio homem e um pouco de mulher que tinha uma fazenda na região.

Isso fora contado em forma de boato, mas para o povo da região, os dois eram amantes, segundo eles.

Em uma noite de lua cheia, quando a lua está mais bela do que nossa imagem, Felipe e Joana estavam sentados debaixo da árvore de costume. Conversavam muito. Recordavam do passado, faziam planos para o futuro e trocavam alguns beijos e abraços, apesar de Felipe não ser muito chegado a isso, pois preferia o amante.

Zeca do Violão, apelido dado a um vizinho de Joana, era muito farrista. Gostava de aventuras, de farras, de mulheres, de bebidas ( dizem que somente bebia guaraná e coca-cola), fazia a alegria do povoado. Contava suas aventuras, contava piadas, fazia serenata e ensinava os meninos a tocarem instrumento musical.

Certo dia, Zeca passou perto do abacateiro e viu muitos abacates. Teve vontade de apanhar alguns, mas pelo costume do lugarejo, ele teria que pedir ao proprietário e este não gostava de dar abacates para as pessoas, somente gostava de vender. Então, Zeca, malandro como sempre, resolveu ir pessoalmente ao abacateiro, já à noite, para usurpar alguns abacates. Escolheu esta noite e foi. Subiu no abacateiro e começou a apanhar alguns. Por sua infelicidade, no momento em que ia descer da árvore chegaram Felipe e Joana e começaram a namorar. Zeca, porém, ficou envergonhado de descer, porque seria descoberto furtando abacates. Não teve outra escolha a não ser ficar preso em cima da árvore.

Conversa vai, conversa vem. Até ai tudo bem. Alguns beijos, alguns abraços e um pouco de amor escaldante faziam parte daquela rotina, a não ser que em um dos assuntos, viesse à tona: o caso de Felipe com Tião.

- Meu Felipe, já percebi muitas vezes que você não me ama. Você está sempre aéreo das coisas de que eu falo, principalmente ao nosso noivado. Até hoje você não decidiu nada. Não falou com seus pais, nem ao menos com os meus, qual é o problema? Você não me ama?

- Qual o motivo da sua descrença comigo, fale-me sério, você me ama?

- Sim, meu amor, eu amo muito você. Você mesmo sabe o quanto eu estou sofrendo por estas perguntas tão imbecis que você me faz. Sobre o nosso casamento, vou pensar mais detalhado. Quero ter bastante certeza sobre o amor, porque até hoje eu ainda não sei. Será que vale a pena casar?

O tempo ia passando. Zeca, sem lugar definido, sentido câimbras nos pés e nas mãos, não podia descer. Tinha vontade de fazer xixi, tinha sede, tinha fome, porque ainda não jantou e mais outras necessidades. Pensava ele, como poderia descer dali. Pelo jeito da conversa, ainda gastariam muitos minutos e talvez horas.

O assunto era o mesmo. Joana fazia pressão e Felipe se esquivava e Zeca sofria em cima da árvore.

De tanto falar, Joana entrou em crise de choro. Chorou muito, gritou muito que Felipe não a amava até que disse o seguinte:

- Felipe, você sabe que eu lhe amo muito. Não precisa duvidar. Se você não tiver acreditando ( apontando a mão para cima, em direção a Zeca), pergunte aquele que está lá em cima, que ele lhe dirá.

Momento oportuno para Zeca, que acima da árvore, carregando os abacates disse em voz tão forte e com raiva:

- Eu não sei de nada da vida de vocês. Se vocês me permitem, vão embora e não voltem mais aqui para conversar este assunto tão fútil e sem razão.

Não deu outra. Joana sai correndo para um lado e Felipe para o outro. Até hoje, nunca mais voltaram à arvore. Momento propício para Zeca descer e levar para casa os tão sofridos abacates.

Voltando ao Povoado dos Urubus, fiquei sabendo que Joana se casou com outro e Felipe uniu-se ao seu Tião.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 22/12/2010
Reeditado em 08/10/2016
Código do texto: T2685362
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