POESIA É TODO DIA

Ligo o micro e descubro que hoje é Dia da Poesia. 
Caramba, e eu que nem sabia que poesia tinha dia...
Quem será que inventou de eleger um dia do calendário, entre trezentos e sessenta e cinco no ano, para ser o Dia da Poesia?
Já de início quero dizer que não gostei da idéia. Sou (do) contra!
Poesia é coisa livre, que acontece a todo instante, seja de tristeza ou alegria. Esse negócio de arrumar um dia pra ela parece que engessa, enquadra, sei lá... Tira a espontaneidade do verso, que surge no de repente, sem escolher momento ou lugar. Pode ser no meio da rua, no carro, no banheiro, na hora de dormir... Às vezes até acorda a gente, e aí é um atropelo de procurar papel e lápis no escuro sem acordar o tema que ressona ao lado.
Tem outro aspecto a considerar: parece que poesia com dia não brota do sentimento do poeta. Poesia com dia deve ser fabricada em máquina e vendida a quilo, a metro, a litro... Seria um poequilo, um poemetro ou um poelitro... O cidadão apaixonado chega na loja de versos e diz: me dá meio metro de poema pra uma morena de olhos negros...  Também deve ter a poesia expressa, pra ser consumida rapidinho, que o freguês manda embrulhar pra viagem. Fico imaginando um delivery de versos: o motoboy cortando a cidade, fazendo manobras radicais, pra entregar a encomenda saída do forno, ainda quentinha...
Arre! Desculpem o mau jeito - chegado a mau-humor - de estar usando esse espaço de poetas pra protestar contra o Dia da Poesia, mas, em defesa da poesia de todo dia: Poesia não tem dia! Poesia é todo dia! 

* poster: Rafal Olbinski *

Rosane Coelho
Enviado por Rosane Coelho em 20/10/2006
Reeditado em 20/10/2006
Código do texto: T269381