Em quem votar em 2.010

Neste mês de outubro, um indiano chamado Muhammad Yunus, que hoje habita o Bangladesh, país que fez parte do território indiano até na década de 70, ganhou o “Prêmio Nobel da Paz” de 2006. Alguém faz jus ao Prêmio Nobel, quando recebe uma indicação para o mesmo, por haver prestado algum serviço considerado relevante à humanidade.

Muhammad Yunus, economista e professor, fundou o “Grameen Bank” em Bangladesh, em 1983. O leitor pode ficar imaginando sobre que mérito pode haver em se fundar mais um banco, se o mundo está cheio de bancos que ganham muito dinheiro cobrando de seus clientes altas tarifas e juros mais altos ainda. Na verdade, o banco criado por Yunus é uma empresa com características bastante diferentes das dos bancos que conhecemos. O “Grameen Bank” visa tirar as pessoas da miséria e já concedeu, até hoje, mais de 5,7 bilhões de dólares em microcrédito para moradores pobres de Bangladesh e dos vizinhos indianos. Tirando as pessoas da miséria, dando a elas dignidade, “o banqueiro do povo” acaba por promover a paz entre elas.

Yunus não tem o costume de dar esmolas a mendigos, a deficientes ou a mães com crianças no colo quando esses lhe pedem. A filosofia dele e de seu banco é ajudar e fazer com que os pobres se ajudem e dessa forma tenham seus problemas resolvidos, não apenas por um momento ou por um dia, mas por toda a vida. "Por que os pobres não deveriam ter acesso aos serviços financeiros? Por que a tecnologia da informação deve ser privilégio exclusivo dos ricos? Por que não projetar coisas para os pobres?", são os questionamentos de Yunus.

O “Grameen Bank” empresta pequenas quantidades de dinheiro aos pobres e todas as transações são feitas em reuniões públicas semanais (isto num país em que a corrupção é endêmica, como também é no nosso) e não exige garantias de seus clientes, como fazem os outros bancos. O ganhador do Nobel 2006 costuma dizer "deixe com as pessoas, elas podem tomar conta delas mesmas. Você não precisa derramar lágrimas por elas. Elas são muito capazes." A razão dessa idéia de Yunus está fundamentada numa realidade diferente da dos banqueiros que emprestam dinheiro a juros excessivos, como no nosso país. Segundo ele, o “Grameen Bank” recupera quase 99% de seus empréstimos e os seus clientes não precisam de dar garantias. Ao ser criticado pelos “entendedores” de economia, quando esses lhe dizem que seu banco faz empréstimos muito pequenos, Yunus os desafia dizendo que não está lançando uma guerra contra os ricos, mas que apenas está ajudando aos pobres e que não se importa se os ricos ficarem mais ricos. O que o preocupa é os pobres ficando mais pobres e não enriquecendo. Para ele, o importante é levantar a base da sociedade, superar a pobreza e a exclusão social fazendo com que as pessoas criem seus próprios meios de manutenção.

Alguém pode dizer que no Brasil, que em Pará de Minas já existe um Banco Popular, que empresta pequenas quantias. Sim, existem diversas unidades do Banco Popular no Brasil que estão espalhadas pelos maiores centros urbanos. Esses bancos têm ajudado a muitas pessoas, porém ainda não atingem os mais pobres entre os pobres, aqueles que não têm capacidade econômica para oferecer garantias aos microcréditos. Vale dizer que a idéia do Banco Popular no Brasil surgiu a partir das idéias de Yunus. Porém, precisa ainda ser levado aos pequenos centros populacionais, aos mais distantes pontos do país e com juros baixíssimos.

Quando soube do motivo que gerou este “Prêmio Nobel da Paz” dado a Yunus, fiquei pensando na postura dos candidatos que disputam as eleições presidenciais de 2006 no Brasil. Fiquei pensando nos brasileiros, há muito, órfãos de bons políticos. Até hoje, a poucos dias do segundo turno da eleição, nenhum dos dois candidatos apresentou um projeto de governo. Estão por conta de se acusarem, de comentarem pecados de ontem e de hoje, um do outro. O que será deste povo brasileiro, quando qualquer um deles ocupar o governo no período 2007-2010 ?

Estive refletindo sobre como, há anos, os homens do governo tratam o sistema financeiro do país_ fator que também serve para discussão entre os dois candidatos, porém, sem dizerem de seus projetos em relação a isso, que sejam favoráveis ao povo. Penso em como tratam as urgências dos excluídos sociais, que representam a grande maioria da população e em como tratam os poderosos e ricos banqueiros que não são do povo........ No governo passado, que durou oito anos, quatro deles conseguidos de maneira escusa, foi criado o “PROER” para ajudar a bancos estatais e privados que estavam quebrados ou em situação difícil. Esse governo tentou dar ao povo uma justificativa que pudesse parecer razoável: “Quando o banco quebra, você tem dois caminhos: ou você resolve passar o controle desse banco para algum outro banco e dá algum dinheiro, empresta dinheiro para esse outro banco, ou, se você deixa o banco quebrar, quem paga não é o banqueiro, não, porque o banqueiro já quebrou. Quem paga são os depositantes, que não sabem que o banco vai mal. E, aí, eles ficam na rua da amargura. O que é que nós estamos fazendo? Nós pegamos dinheiro - que não é do governo, que não é do Tesouro, que não pode ser usado para a agricultura, para a saúde, para nada, mas que é dos próprios bancos, porque os bancos todos são obrigados a recolher no Banco Central uma parte dos depósitos que eles recebem - então, nós pegamos uma parte desse dinheiro, do Banco Central, que é deles próprios, e emprestamos a um banco bom, para que ele se ocupe, salve o banco ruim. Mas ele paga. É emprestado. É emprestado e ele vai pagar depois.” Entretanto, gente que lê, que estuda e até mesmo o povo em geral avaliam arranjos do governo e conclui que o PROER foi de grande utilidade para aumentar o patrimônio dos grandes bancos durante o período do governo passado, num dos mais indignos processos de concentração bancária ocorridos até hoje. Às custas do dinheiro público.

No governo atual, do presidente que, quando candidato vinha pregando que era insuportável que os bancos tivessem lucros tão grandes, mas, no entanto, na sua pose de presidente, além de deixar os juros flutuarem nas alturas autorizou empréstimos consignados a aposentados, com juros a 2,86% ao mês. As pessoas que contratam esses empréstimos, na maioria, ganham um ou pouco mais de um salário mínimo. É bom lembrar que, quando o leitor aplica um determinado valor na “Caderneta de Poupança”, recebe bem menos de 1% de juros, não é mesmo?

Aí, fico pensando. Nunca estudei as teorias da Economia e nem disponho de argumentos concretos para discutir a respeito do que se pode fazer em favor de um povo que está quebrado devido a falta de inventividade dos políticos brasileiros. Também não tenho uma fórmula para fazer com que esse povo pobre do Brasil tenha acesso a meios de ganhar a sua própria vida. No entanto, como qualquer outro brasileiro, percebo que há alguma forma de se conseguir isso e que não é preciso recorrer à magia. Como faz Yunus em sua terra de tantos pobres como a nossa.

Já decidi. Vou dar meu voto ao candidato que apresentar em sua proposta de governo, pelo menos um item que favoreça o povo pobre brasileiro, coisa que não seja tão paliativa como bolsa-família, coisa que proporcione dignidade aos excluídos. Parece que isso fica para 2010. Quem sabe?

Terezinha Pereira
Enviado por Terezinha Pereira em 22/10/2006
Código do texto: T271042