cronicando

A sensação tem de ser esta, a do agora e aqui. Se mencionar o ontem, teremos a possibilidade de nos movermos no tempo. Sem esquecer a frase, onde nos movemos, deve ser ela a levar-nos.

«Ontem pus ovo como um cuco e abandonei de seguida o ninho, assim começo hoje, mas despeço-me num até já onde lerei os leitores, seus comentários!...»

cronicando

Quando damos letras, nossas ou de outros, estamos a dar tempo, atenção e a dedicar algo de nós mesmos. O bom das palavras surge quando, uma vez por outra, mais que dizê-las ou escrevê-las, sentimos que elas nos dizem, nos esgotam, tiram da nossa capacidade de sentir tudo, para com esse tudo vir mais qualquer coisa: a capacidade de nos maravilharmos! Geralmente começamos leitores, mas leitores continuamos sempre. Também de nós mesmos, quando escrevemos. Maravilha é a maravilha poder acontecer numa situação destas, nós e as palavras...

Vou voltar ao inicio do parágrafo anterior, dedicar algo... Este algo é alguém, somos nós, mas algo em nós: a presença da escrita pode ser plasmada, antropomorfisada, é uma criação... criada. Podemos servirmo-nos dela para o que queremos? Não, é como empregada doméstica, nós mandamos mas nem sempre bate certo.

Quis dizer um pouco do que sinto quando leio e escrevo, croniquei...

Espero releves que faça da particularidade duma correspondência particular a matéria duma escrita que tento não seja impessoal, mesmo quando não sei para quem escrevo.

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 23/06/2005
Código do texto: T27145