CRÔNICA #050 - A RESSACA, O MAR E EU

Praia do Rio Vermelho, Salvador – BA. Era o mês de março de 1972. uma época muito chuvosa resultando numa tremenda ressaca.

Foi num domingo assim que fui com alguns primos e amigos curtir um banho de mar. Próximo dali fica a 'Bacia das Moças', uma praia muito concorrida devido a muitas pedras formando uma espécie de barra. Quando a maré baixava ali se transformava num grande piscinão. A praia do Rio Vermelho é muito famosa pela preferência dos banhistas e mais ainda dos surfistas devido à formação de boas ondas nessa época do ano.

Mas para quem nada qual um prego como eu, não foi algo assim tão divertido, principalmente depois de uma noite de chuva intensa e pesada. Chegamos um pouco antes das nove da manhã. Estiramos nossas esteiras e fizemos alguma duplas para jogarmos frescobol. Ninguém me explicou como se jogava aquilo. Dada a semelhança com o pingue-pongue, matei muito a alegria e o gosto de os outros jogarem comigo. Apesar de sempre receber belas bolas, as devolvia com grande agressividade, para tirar o outro da jogada. E eu nem sabia que aquilo se jogava de modo diferente, pois, ao contrário do tênis de mesa, a graça estava justamente em passar a melhor bola para o companheiro (e não adversário) a fim de ajudá-lo a manter a bola em jogo o maior tempo possível. Como me envergonhei depois de longos anos quando descobri a filosofia das jogadas de frescobol. E eu estava convicto que estava jogando bem e nem percebia que estava acabando com o jogo. Um verdadeiro chato de galocha.

Logo, logo, saí do jogo e entrei na água. Estava muito agradável, ligeiramente morna. Dei algumas braçadas, mergulhei bastante. Estava super legal. Mas, na hora de sair, foi que percebi que algo não ia bem. O mar puxava muito devido a ressaca. Dei umas boas braçadas e me aproximei da areia. Fiquei de pé, mas não conseguia andar. Enquanto uma onda ira quebrar na praia, outra retornava por baixo dos pé com bastante força e velocidade. Eu levantava um pé para sair da água, o outro se desestabilizava pelo cavar da onda que retorna e isso me levou a um princípio de pânico, pois aos poucos ia sendo arrastado cada vez mais para o fundo. Como sou um péssimo nadador, comecei a me apavorar, enquanto cada vez mais a água crescia; já dava pra cima do meio das coxas. E as ondas vinham com mais e mais força. Mais um pouco e eu teria entrando em prantos. Foi quando olhei para trás. Uma gigantesca onda se aproximava, cavalgada por um ruidoso vento que a impelia para a praia.

Faltou-me areia nos pés. Gritei: “Socorro, Deus! Tem misericórdia de mim, Senhor! Salva-me!”

Não sei explicar o que de fato aconteceu. Só sei que, de repente, vi-me como a pegar jacaré na crista daquela onda de uns cinco metros de amplitude. De repente, faltou sustentação e caí na areia da praia com todo o corpo. A cabeça bateu com bastante força na areia. De olhos fechados estava, de olhos fechados fiquei. Depois que recobrei os ânimos, mexi meus pés, meus dedos e vi que estava sem dor alguma. Abri os olhos e pude vislumbrar o grande livramento que havia recebido.

Uma enorme pedra preta distava a apenas um dedo de minha fronte.

"Glória a Deus! Obrigado, Senhor!", sussurrei, agradecidamente.

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Obs.: Não se deve subestimar a ressaca, seja ela marítima ou humana. Ambas podem resultar em consequências danosas.

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Bemtevi

Marinheiro de primeira viagem...

não se deve abusar do mar...

sempre tão traiçoeiro...

na vida há que se te cautela...

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 24/02/2011
Reeditado em 24/02/2011
Código do texto: T2811435
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