A Escolha de Marcelo

“Morra planejadamente” Este deveria ser o slogan dos planos de saúde que existem por esse Brasil afora. As empresas reclamam que as mensalidades são baixas, os segurados adoecem a cada aumento das contribuições, os médicos chiam ante os valores repassados pelas administradoras e o governo, pressionado por lobbies e pelas bancadas no Congresso, nada faz para resolver o problema.

Seria trágico se não fosse cômico. Vejamos um único caso, o caso de Marcelo que, filiado a um dos maiores planos de saúde que atuam em Roraima, passou a sentir formigamentos nas pernas e decidiu usufruir de seus direitos de segurado.

Câimbras e dormências nos membros inferiores eram comuns no empresário de vida sedentária. A recorrência de formigamentos nas veias das canelas, no entanto, forçou-o a procurar um médico.

Foi aí que Marcelo caiu na real e viu a arapuca em que tinha entrado.

- Alô, consultório do doutor Marcondes...

- Oi. Marcelo Vieira Antunes. Gostaria de marcar uma consulta...

- Qual o seu problema?

- A senhora é médica? A consulta agora é feita por telefone?

- Não. É só pra facilitar o atendimento...

- Eu estou com constantes formigamentos nas pernas e quero marcar uma consulta...

- Qual o seu nome?

- Marcelo Vieira Antunes...

- Particular ou convênio?

Após confirmar que era convênio e dizer o nome da seguradora, ouviu:

- Ihhhh. Só dá pra atender na próxima semana. Terça-feira, tá bom?

- Se eu não morrer até lá, tudo bem...

- Tá bom... Terça-feira às 18 horas...

Na data marcada, Marcelo chegou ao consultório às 17:30. Quando faltavam dez minutos para as 22 horas, o médico, seu conhecido há muito tempo, reclamou da quantidade de pacientes e disse ao impaciente Marcelo que ia “atendê-lo em atenção à nossa amizade, pois o meu expediente encerra às 21 horas”.

Depois de auscultar coração, aferir pressão, breves apalpadelas nos membros inferiores do doente e algumas perguntas, o médico sacou o receituário e solicitou exames de fezes, sangue e urina e uma exame apurado da circulação sanguínea nos membros inferiores do paciente.

Na quarta-feira, Marcelo, depois de enfrentar longa fila em busca de requisições para fazer os exames solicitados, foi surpreendido pela pergunta da atendente:

- Esse exame de circulação de sangue, o senhor vai fazer em qual das pernas?

Marcelo encarou a mocinha e, ironicamente, perguntou:

- Como assim? Você tá me achando com cara de Saci?

- Não. É que o seu plano só autoriza um desses exames por ano... Assim, o senhor tem que escolher uma perna...

- É brincadeira? Minhas duas pernas estão doentes e eu tenho que eleger uma para o exame?

- É o que diz o regulamento. Pelo tempo de filiação, o senhor só tem direito a um desses exames por ano. A decisão é sua. – E, impaciente, com a caneta pronta para escrever - Que perna nós vamos examinar?

Marcelo, ante a situação escandalosa, abriu o verbo:

- A senhorita quer dizer que se eu entrar numa briga e o adversário quiser me dar um porrada no saco, eu tenho que pedir pra ele atingir só um dos ovos, porque o meu plano de saúde não cobre os dois?

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 07/03/2011
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