Aiô, Silver. Avante!
Antônio Pacheco caiu na buraqueira. Depois de assinar o divórcio, bem resolvido, poupança gorda, comprou carro esportivo, alugou confortável apartamento em condomínio de classe média alta e resolveu se entregar às coisas boas da vida. Toninho, sempre acompanhado de belas garotas, passou a frequentar os points mais disputados da cidade.
Com a chegada do carnaval, pintou um programa diferente. A nova turma de Toninho planejara um baile de máscaras para a sexta-feira gorda. Na lista, só mulheres magras, claro. Para fazer inveja e tirar sarro, o executivo estendeu convite para seu melhor amigo. Para surpresa de todos, Jorjão topou.
Em casa, Jorge Araújo falou para a patroa que viajaria a negócios na sexta e, se tudo corresse bem, voltaria na manhã de sábado. “No primeiro voo, meu amor”. Isabel, esposa apaixonada, lamentou: “O que eu vou fazer sem você, meu bem?”
Jorge comprou uma fantasia de Zorro. Pagou caro, mas encarou aquilo como investimento. Investia no pecado. No estacionamento do aeroporto, o executivo assumiu a identidade secreta de doutor Robledo, entrou num táxi e mandou tocar para a furupa de Toninho.
No salão da casa alugada para a patifaria, o Zorro, preocupado com o crime perfeito, só tomava vodka (pra não deixar bafo). Ao servir-se de uma garrafa de wyborowa, seus dedos roçaram na mão de uma apetitosa colombina. Houve troca de olhares de cumplicidade e tesão. Os dois mascarados dançaram um pouquinho e, logo, num dos cômodos do casarão, se entregaram em criativa e arrebatadora noite de amor.
Às quatro da manhã, numa das idas da acompanhante ao banheiro, Jorjão aproveitou para se escafeder. No estacionamento do Aeroporto, desvestiu a fantasia, colocou-a no lixo e reassumiu a identidade de sério executivo.
Em casa, a porta do quarto foi aberta cuidadosamente. Apesar de confiante no crime perfeito, não queria correr o risco de se contradizer em alguma pergunta. Isabel dormia. O sorriso angelical na face da esposa encheu Jorjão de remorso. Ao abrir o cesto para colocar o terno amarrotado, uma fantasia de colombina chamou a atenção do executivo. Meio sonolento, meio embriagado, ele não deixou que maus pensamentos se instalassem em sua mente. Pensou até numa possível armadilha preparada por Isabel. Deitou-se e dormiu.
Isabel acordou e perdeu-se em devaneios quando ouviu o Zorro gritar na televisão: “Aiô, Silver. Avante!”
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