Foi o que eu escolhi para mim

Quatro anos de faculdade depois, ela se vê sem emprego, em casa, com a avó chata fazendo barulho na cozinha. Fica de pijama até meio dia (trocar de roupa pra quê?). Seus pais acham que ela devia ir procurar um emprego no banco, no aeroporto, em qualquer lugar. Acham que ela está muito deprimidinha em casa, que precisa ocupar a cabeça.

Um curso de inglês, conversação, para fazer voltar o conhecimento que se perdeu, mais de mil reais por mês. Um absurdo! Ela não quer que eles paguem tudo isso. Ela chega a se arrepender de ter feito a faculdade, que saiu umas cinquenta vezes mais caro do que o bendito curso. Sair do país para um intercâmbio? Dá até medo: se não voltar fluente, mais dinheiro jogado fora. E um mês perdido na busca por um emprego. É difícil essa vida de investimento futuro: eles investem, e se você não paga o pato, está dando prejuízo.

Não que eles cobrem o dinheiro gasto. Não, não cobram. Mas ela sente o peso da expectativa em seus ombros. Antigamente era assim, fazia-se uma faculdade e estava empregada. Hoje o mundo mudou. E por mais que ela tenha suas qualificações, está em casa. Sem rumo, e a beira do desespero.

O computador ajuda na caça às vagas, no envio de currículos, na busca por trabalhos freelancers. Ela não consegue segurar uma lágrima, que cai na letra J. J de Jornalismo. Foi o que eu escolhi para mim, e é o que eu vou fazer. Ou é pecado querer fazer o que gosta?

Carol Porne
Enviado por Carol Porne em 10/03/2011
Código do texto: T2839117
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.