O novo

É urgente criar novas estréias. As coisas se gastam com o decurso do tempo, perdem muito da magia e viço do começo. Tudo é assim: um curso, uma roupa, um sabor e até o amor. Até mesmo o amor se gasta. E não vem com essa história que amor de verdade não se gasta. Dói. Dói muito, mas o amor (todo amor é de verdade) se gasta também. E há quem queira costurar, remenda daqui, puxa de lá, e ele vai escorrendo, qual água na peneira.

Amizade também se gasta. Tudo é fungível. Por isso de vez em quando a gente cria briga, picuinha, pirraça, intriga, fofoca e saudade. É tudo mecanismo inconsciente pra evitar que as coisas se gastem, mas não adianta. A gente então faz as pazes. Liga pro amigo. Volta com o namorado. Inventa paixão. O ser humano precisa do novo e da revolução que ele traz. Guerrilhas na alma. Inquietações da variadas formas. O novo é uma cachaça da boa.

Desde criança aprendemos descobrindo: andar, comer, falar, ler... O ser humano precisa do aprendizado. E o novo atrai, seduz, capta e nos conduz num emaranhado enorme de descobertas. E como numa teia um novo puxa o outro e nessa dinâmica louca muitaz vezes precisamos parar, pra que o novo não nos tiranize. Precisamos também de solidez, de bases. Todos nós precisamos de um porto e de lidar com a distância, a perda, a morte e com o simples fato de que tudo se gasta.

Por isso é preciso a cada dia estreiar o novo em nós. Um novo olhar pro mundo. E, assim, o que antes era velho, frio, sem sabor, torna-se novo com a gente. O novo está nos palcos, nas ruas, nos noticiários, nas notas de rodapé, escondido, clandestino e inexorável. O novo está em nós.