INVERNO VS. VERÃO - E O AMOR

Cena típica de praia: embalados pelos famosos luais em rodinhas de violão, pombinhos facilmente se apaixonam, quais presas fáceis e indefesas e dão a luz ao que juram ser o inicio de uma história de amor eterna. Eterna, pelo menos até o veraneio acabar. Quem ainda não ouviu a expressão: ‘amor de verão não sobe a serra’? Se não sobe a serra, na minha modesta opinião, não foi amor... foi paixonite. Minha idéia de amor é de um sentimento bem mais enraizado do que um simples sexo à beira mar. Não banalizemos o sentido da palavra amor e o sentido de amar. Amor de verão? Quero um amor de verão que dure até o inverno, que é quando mais preciso de calor (humano).

Amar é quase sempre um risco. Basicamente o risco é se machucar ou machucar alguém. E já que o risco é de certa forma natural à existência da doação que o amor exige, prefiro me ‘arriscar’ num amor forjado à penosas e adversas condições do inverno. Adversidades assim, solidificam.

No inverno podemos usar artimanhas românticas: vinho, lareira e velas aromáticas. O amor do inverno é mais maduro. No inverno posso usar a casa do campo e seu clima que aconchega. Assistir um filme (Cidade dos Anjos, Ghost ou Um Lugar Chamado Nothing Hill) comendo pipoca na cama, fazer amor com entrega e dedicação total, dormir de conchinha e acordar de mansinho com o barulho da chuva no telhado. Já imaginou dormir de conchinha no verão, debaixo de um calor de 40°? Caso um ‘amor’ de inverno não dure (tal qual um amor de verão, que não sobe a serra) que pelo menos deixe lembranças saudáveis e não apenas recordações eróticas. No verão, as bundas ficam muito salientes e é difícil, desta forma, distinguir o que é amor ou o que é tesão. O verão mostra o corpo malhado, as tatuagens tribais de rena, o piercing no umbiguinho e o bronzeado amarelado das lâmpadas U.V.A. O inverno mostra o intimo. No inverno ficam escondidas as belas formas que passam debaixo do nosso nariz, na praia durante o verão e surgem oportunidades de enxergar, não músculos e umbiguinhos, mas sim sentimentos e humanidade, através do contato menos ‘erotizado’ em que consiste uma relação de cumplicidade.

Quero amar o intimo de alguém e não a imagem palpável de um par de seios fartos que vão ficar caidinhos em alguns anos. Prefiro sinceridade, mesmo que venha com um pouco de celulite. Não quero lentes de contato com olhos verdes fajutos. Isso não alimenta a alma.

Porque dizem então, que o é verão a estação do amor?

Porque no verão tem a libido latejando os corpos estirados na areia. As pessoas estão com menos roupa. Malham meses antes para estarem apetitosas. A surfista gostosa tem o bumbum arrebitado, eu sei e o salva-vidas tem as coxas grossas e bronzeadas. Mas, se for para olhar o lado material e palpável, eu lhe garanto que aquela bunda um dia vai se transformar residência de celulite e o orgasmo propiciado pelo salva-vidas não necessariamente será melhor do que o orgasmo atingido com um ser humano dono de uma respeitável barriguinha de chop.

O frio do inverno, pode aquecer a alma. O calor do verão, pode derreter os miolos.

Martins Filho
Enviado por Martins Filho em 30/06/2005
Código do texto: T29415