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                                             Música ao Longe



Gosto de música e sou um pouco eclética, não a ponto de gostar de sertanejos modernos, nem de funk e suas derivações. Mas gosto de vários gêneros.

Na década de 80 quando eu era uma moçoila e ia para as baladas, fui apresentada a uma banda muito bacana chamada Paralamas do Sucesso. Até sonhei em me casar com Herbert Viana, o vocal e ter muitos filhos com ele.

Em 1986 a Banda lançou um álbum no qual continha uma música genial - Alagados.

Naqueles tempos, como diria o autor sagrado, não havia internet tampouco o Google, pai dos internautas. Conhecer a letra de uma música, só com aquelas revistinhas de cifras. Então a gente cantava como entendia.

Do Bob Marley eu sabia apenas que cantava reggae, usava drads e vivia na Jamaica . Eu não fazia ideia de que ele morava numa favela.

Em uma viagem a Porto Alegre estávamos no café do hotel, quando começou a tocar a música Alagados. Eu perguntei à minha amiga se ela sabia o refrão da música, que para mim não fazia nenhum sentido.

Ela me disse: - " É Alagados, Freakstown, Favela da Maré, Esperança não vem do mar, nem das antenas de TV. A arte de viver da fé, só não se sabe fé em quê.
- Frenk o quê?
- Freakstown. É uma grande favela da África.
- Ah! Faz sentido, pensei: - Alagados, uma grande favela de Salvador, Favela da Maré outra grande favela do Rio de Janeiro e essa aí da África que deve ser enorme.

Passei a cantar assim o refrão. E o cantei por 25 anos.

Estamos em 2011 e  dias atrás, saí com meus filhos para passear de carro. Meu filho colocou uma música para ouvirmos. Alagados, do Paralamas do Sucesso. Nós três começamos a cantar juntos. Foi então que o meu mundo caiu. Meu filho baixou o som e perguntou:
- Mãe, o que é que você canta? No que respondi prontamente:
- Alagados Freakstown, Favela da Maré..... Freakstown, uma grande favela da África! (me sentindo muito bem informada).

Escutei um risinho tímido de minha filha lá no banco de trás. Meu filho me disse na lata, sem o menor cuidado com meu velho coração:
- Mãe, é Trenchtown, uma favela de Kingston, capital da Jamaica, onde nasceu Bob Marley.

A música acabou, continuamos a ouvir o Monobloco e seguimos nosso passeio.


Fui pesquisar sobre a música,  composta naqueles terríveis anos 80 onde Herbert Viana faz uma crítica social e alerta às pessoas que elas precisam ir à luta por seus direitos. Mas eu era imatura demais para compreender o capitalismo selvagem que assolava o país. Eu não compreendia nada daquilo que aqueles três jovens queriam gritar ao mundo... eu queria só casar com o Herbert Viana.

Como se pode notar, pouca coisa mudou em 25 anos e a música serve para o nosso "agora" como serviu a nossos pais.

Quando estou sozinha em meus devaneios, ouço uma música ao longe e passo a cantarolar: - Alagados Trenchtown, favela da maré, esperança nao vem do mar... Nunca é tarde para aprender e mudar!



Notas:
- O bairro Maré foi instituído em 1994 e congrega aproximadamente dezesseis microbairros, usualmente chamados de comunidades, que se espalham por 800 mil metros quadrados próximos à Av. Brasil e à margem da baía, cortado pela Linha Vermelha e pela Linha Amarela.
- Alagados em Salvador, BA: Em 2007 a favela composta basicamente de palafitas foi fotografada, mostrando que quase nada fora feito para uma melhoria na qualidade de vida.
- Trenchtown - Uma favela da cidade de Kingston, capital da Jamaica, onde nasceram e viveram cantores de reggae, como Bob Marley, Bunny Wailer e Peter Tosh. A a favela é citada por Marley na música No Woman no Cry, como em Alagados de Herbert Viana, entre outras.
Fonte Wikipédia


A canção faz um relato da dura realidade da vida nas favelas brasileiras, mais especificamente nas cariocas (como presenciado no verso "a cidade que tem braços abertos num cartão-postal"), durante o período da intensa crise sócio-econômica que atingiu o país durante a década de 1980 (popularmente chamada de "década perdida"). No refrão, a canção faz um paralelo desta realidade com a da favela de Trenchtown, na Jamaica, e da favela de Alagados, em Salvador, colocando-as num mesmo nível. A canção retrata a cidade do Rio de Janeiro como sendo um lugar com "punhos fechados" e que "nega oportunidades" a seus moradores mais pobres, enquanto que essa interpretação pode ser expandido para todo o país daquela época. Também é feita uma referência à popularização em massa dos aparelhos televisores naquele período no verso "a esperança não vem do mar, nem das antenas de tevê". A canção também mostra como a fé do brasileiro numa melhoria na sua qualidade de vida parece ter acabado quase por completo durante essa época.
Fonte Facebook



Lili Maia
Enviado por Lili Maia em 28/05/2011
Código do texto: T2999304
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