Uma doença estranha

Wilson Correia

– Não sei onde, nem quando passei a fazer essa “horicite” aguda.

– Quê?

– Essa coisa de ser pontual... Mania de cumprir horários...

– Mas “ite” é inflamação... O termo não cairia melhor aos impontuais?

– Boa sugestão...

– Será que “horicite” é inata? Por exemplo: nasci às 11:30, em ponto.

– É... mas nasceu em um dia e seu registro atesta ter vindo ao mundo quatro dias depois...

– A “horicite” deve ser só minha.

– Não deveria...

– Vero! Ganharíamos tempo, dinheiro, paz aos nervos...

– As coisas fluiriam melhor...

– Hoje, cheguei sete minutos antes do horário marcado para o encerramento do expediente. Quem estava lá? Uma porta fechada em minha cara e o setor sem nenhum vivo corpo para rodar a chave e me atender. E olha que era para apenas oferecer minha assinatura em três folhas de papel...

– Que especialidade médica trata da “horicite”?

– Vai saber...

– Algum “burucratólogo” relapso se interessaria por isso?

– Só se fosse para estudar a si mesmo...

– Ah... essa doença estranha deve ser só minha.