História do futuro

Então o casal de namorados voltava caminhando para casa, ele, sonhador que só, falava para ela coisas que ela, ingênua que só, gostava de ouvir.

E não se sabe como nem porque ele disse, Ah tu vás ver, daqui a alguns anos, ainda estarei contigo, tu ainda não sabes, mas sou o homem com qual sempre sonhaste. E ela fingindo certa descrença, Que nada, tu falas isso só para me iludir.

Ele disse, Hoje foi um dia especial, devemos eternizar esta data, agora há pouco falávamos do dia em que nos beijamos, faltam dois dias para o mês-sário, portanto não podemos esquecer esse dia. Ah tu sorrir, nunca me dar ouvidos, por que tu não me acreditas? Por acaso falo utopias? Pois daqui a um tempo, posso ver tu já velhinha suspirando, Ah bem que ele me disse que daquela noite eu nunca ia esquecer. Onde será que ele anda, aquele louco? Só sei de seus livros... Ela, meio contrariada dá um tapinha nele e, Safado! É assim que quer ficar o resto da vida comigo? Homem não presta, não presta mesmo. Ele, sorrindo, Estou brincando, falei assim só para ver se estava concentrada, me ouvindo. O que eu quero mesmo é ficar contigo, já te falei, mas tu não acreditas. Ela, Mentiroso! Ele, pois está bem, tu vás ver, quando com oitenta anos eu morrer, tu, velhinha, toda enrugadinha vai, rodeada de netos e filhos, amigos e desconhecidos olhar para mim e falar, Bem que ele falou naquele distante ano, que neste dia de hoje eu lembraria. Mas como posso esquecer, vínhamos por cima da calçada por uma rua muito clara, ele até trazia consigo uma antologia de Mário Quintana, sempre lendo poesia o louco. Lia e dizia que me amaria para sempre, mentiroso. Dizia também que seria o maior poeta que o mundo já viu, e como vêem-se pelos muitos livros que escreveu, pelo que toda poesia dele é em todo o mundo, que ele estava certo. Falava muito sobre isso, sempre a falar de amor, sempre a pregar o amor, sempre em busca do amor, o equilíbrio dele era o amor. Ele me olhava nos olhos e dizia ser eu seu baricentro, na época eu não entendia, demorou e agora, te olhando assim de olhos e lábios cerrados, te compreendo. Sei o tamanho do vazio que tu dizia existir em ti, sei o que tu queria me dizer quando falava que tinha necessidade de mim, sei... eu compreendo tudo.

Agora que te vás, que não posso mais te beijar nem ouvir tua voz, vejo como fiquei vazia.

Naquele dia enquanto sonhavas e me falavas deste dia, eu, sem saber, também já te amava. Após falar, parou e me abraçou, olhos nos olhos meus e disse que muito me gostava e fechou a fala dizendo, Mas tu não acreditas, Realmente eu não acreditava.

O que faltou realizar dos sonhos que sonhavas, qual deles ainda faltou concretizar, claro eu sei, mais nada. Até, amor, tu pudeste dizer naquele dia, que este dia neste dia te levaria. Falou de nossos netos toda esta cena pincelada, sempre com um sorriso nos lábios e uma fina tristeza no jeito com que me olhavas, e eu ali te ouvindo querendo acreditar, mas não acreditava. Tu sabias, eu não, que já naquela época, te amava eu. Realmente como apregoaste que não tinha eu amado de verdade, mas que me esperava... ainda ouço a tua voz, Olha eu gostei de ti quando te vi, quando os olhos meus alcançaram-te, gostei de ti antes mesmo de te conhecer. Por que tu achas que o tempo é necessário para se amar a alguém, o muito tempo? Acho que você nunca amou, somente quando amares vai entender ao pé da letra, o que digo agora. O tempo não tem nada a ver com o amor.

Eu não sabia-o mesmo, e agora que não posso ouvir tua voz, nem tão pouco cheirar teus olhos, te entendo...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 17/07/2011
Reeditado em 17/07/2011
Código do texto: T3100853
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