Cinismo também se aprende: respeite o professor

Wilson Correia*

O mundo anda maluco, minha cara. Mas como tenho que dizer algo fundamental, anote aí: preze a educação. A educação não é tudo, mas é a trilha sobre a qual desliza nossa existência.

Isso eu aprendi ainda em criança. “Respeite os mais velhos! Respeite os de fora da família! Respeite o professor!”. Hoje tenho a sensação de que os “mandamentos” são outros: “Achincalhe os mais velhos! Estranhe os de fora! Soque o professor!”.

Minha cara, não queira ver aí um saudosismo purista pequeno-burguês. Não é isso o que intento. Minha intenção é mostrar que se não se aprende, nem se ensina, a legitimação do outro, o reconhecimento da humanidade particular e própria fica comprometida.

Cuidado! Cinismo também se aprende! E, nisso, as lições atitudinais, comportamentais e gestualizadas são, de longe, muito mais poderosas do que uma simples vocalização professoral. Quero dizer que o exemplo ainda vale mais do que a palavra.

E vale, minha cara! Quando a voz diz “Respeite o professor”, mas o tratamento dirigido a ele se resume a um pisão, aprendemos a pisar, o cinismo de dizer uma coisa e fazer outra. E embarcamos na dualidade do descaro de um idealismo inócuo, contraposto em nós mesmos pela objetividade de um realismo cru, nu e cruel.

Não é o mundo que é louco, minha cara! Nós, os humanos é que somos malucos. Agora mesmo, desde que os professores universitários das universidades federais iniciamos nosso movimento em prol de uma carreira mais digna, as ditas “autoridades” tratam os professores como se fossem coisas procrastináveis, algo que “eu tiro da minha frente”, “Zés Ninguém”.

Isso é realismo cru, minha cara. O parceiro gêmeo do idealismo cínico. No discurso que verbalizam todos os dias, não há um só político que não louve o respeito ao professor e à professora. Porém, na prática, age como se fosse dono da vida e da morte do professor e da professora. Tomam decisões como se o dinheiro do povo que têm a missão e o dever de administrar, e bem, como se próprio fosse. Portam-se como verdadeiros mestres ao dispensarem lições exemplares de como idealizar uma coisa e viver outra.

Ah!... As entidades representativas dos professores estão partidarizadas, dirá você. Por acaso apenas “as entidades representativas dos professores” é que têm endereços eletrônicos, telefones, endereços físicos? Em lugar de marcar reunião apenas para agendar outro encontro, no acinte de não conversar a sério e apenas embromar, levar com a barriga e escarnecer dos professores e professoras, por que não chamar os professores mesmos para as mesas de negociação?

Há muita gente séria que ainda deseja levar as coisas a sério. É com esses que “as autoridades” governamentais devem conversar quando desejam tomar alguma medida consequente. Que as “entidades representativas dos professores” se alimentem do próprio monstro que criaram chamada representatividade. E que se engalfinhem por cargos e mais cargos em sua luta insana em meio ao jogo de poder que eles próprios alimentam.

De nossa parte, minha cara, que cuidemos das coisas que realmente interessam. Se estamos vivos, temos que viver, brincar, nos divertir. Não dá para entrar nessa furada de cada um morrer um pouco a cada embate e semear a morte por onde vai.

Façamos o pacto da vida-vida, do ganha-ganha e do alegria-alegria. A vida é um respiro e precisamos aprender a purificar o nosso ar.

Respeitemos o professor, minha cara! Cinismo também se aprende –e, o pior, também se ensina.

*Wilson Correia é Adjunto em Filosofia da Educação no Centro de Formação de Professores da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.