O que vamos fazer no dia seguinte?

O que vamos fazer no dia seguinte? Algumas vezes em estado de euforia nos prometemos tanta coisa, a nós mesmos e a outras pessoas.

Passamos a vida inteira na companhia de outras pessoas e demoramos tanto, as vezes para acordar e ver que não conhecemos quem está do nosso lado...pior...as vezes, desconhecemos a nós mesmos...

O que dizer, quando não há mais o que prometer?

O que fazer no dia seguinte quando a luz acende e não temos mais assunto para conversar? O que fazer quando cobrimos nosso corpo de vergonha? O que fazer quando sentamos frente à frente e nem nos olhos mais encontramos palavras iguais?

A vida se esvazia de tal forma, que as vezes o tão esperado silêncio, se torna insuportavelmente barulhento, cheio de cobranças...de acusações...

Fugimos...parece que encontramos a saída na fuga...então precisamos buscar sons que preencham esse silêncio indesejado, desse fantasma que ronda pedindo explicações...em outros lugares, em outras companhias...

O grande eu não suporta a verdade...o grande eu, peca pela falta de humildade em perceber que falhou...porque não acordou no dia seguinte...

Nos acostumamos por anos a fio com tantas coisas, com o gole de café quentinho pela manhã, com o banho, com o trabalho rotineiro...Nos acostumamos às ceias de Natal e Ano Novo...aos abraços repetidos todos os anos e os mesmos votos tão decorados...

Criamos ranço, e envelhecemos sem coragem para mudar...mesmo quando nossa vontade era chutar tudo para o alto...e experimentar o dia seguinte...

O que vamos fazer dia 2? Retomarmos nossa vidinha sem graça, toda certinha, cheia de horários...lá pelo pelo final de Janeiro, quantos não terão se esquecido das suas promessas feitas no espocar de fogos...quantos estarão sepultando seus planos recém nascidos? E porque?

São tantas as respostas a muitos porquês...que talvez nenhuma delas seja a que encontra em nós um eco...

Perderemos a euforia, e de cabeça mais assentada vamos tentar ser sensatos de novo...nem que com isso continuemos a perder nossa identidade...vamos continuar matando nossos sonhos, porque não achamos espaço para eles sobreviverem...o dia seguinte...

A comida fumegando no fogão, a mesa posta com elegância...a roupa cheirosa no armário, a casa ventilada e exalando perfume de flores...será aceitaríamos o dia seguinte sem essas coisas, a que nos acostumamos tanto? E será que nos movemos dentro dessa arrumação toda, com a alma feliz?

Somos um amontoado de velhos costumes...temos medo de ousar...

O que vamos fazer no dia seguinte, quando cessarem os fogos...

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 07/07/2005
Código do texto: T31915
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