ATINGIU O BOCAL

Anica pegou um ônibus em Colatina ES e sentou-se sozinha na poltrona, atrás do motorista. Do outro lado estava uma moça de cabelos amarelos, blusa bem decotada e mini-saia, exibindo suas coxas grossas.

Na saída da cidade, o veículo parou para apanhar um senhor idoso, bem vestido, sorridente que, olhou para um lado, para o outro e sem pensar duas vezes, sentou-se junto com a jovem e logo puxou conversa.

- Nossa! Que quentura! Vamos pegar chuva! Você é daqui, lindeza?

- Não, senhor. Vim visitar o meu pai que não anda e não fala mais.

- Igual a minha esposa. A infeliz teve um derrame tão forte que atingiu o bocal.

- Como o senhor disse?! Atingiu o quê?!

- O bocal. Ela não fala e nem presta mais para nada, da cintura para baixo. Por favor, tetéia, não me chame de senhor. Onde você vai saltar, florzinha?

- No centro de Vitória e o senhor, digo, e você?

- No mesmo lugar.

- Ah, que bom! Tenho tanto medo de ser estuprada novamente!

- Que maldade!!! Como é que foi isso, formosura?!

- Numa madrugada, estava voltando de um baile funk e seis rapazes me agarraram. Quando fui dar queixa na delegacia, um soldado me perguntou se fui feliz. Pode uma coisa dessa?!

- Claro que não! Logo você que é uma menina tão pura, tão doce, tão...

Anica desceu no seu ponto imaginando que fim teria aquele papo tão comprido.

Anna Célia Dias Curtinhas