O Baile dos professores

O Baile dos professores

A professora Matilde vai ao baile do CPP.

E não é que a professora Matilde resolve voltar ao baile dos professores!

Depois de uma noite inteira na “balada”, resolve entrar num momento nostálgico.

“ - É, a educação tem mesmo passado por muitas mudanças, ou melhor, por uma verdadeira metamorfose! Lembro-me que nos meus tempos de escola, os pais eram mais presentes, os professores mais rígidos e exigentes, os estudantes cheios de ideais, as escolas públicas mais seletivas, se bem que a grade curricular formava seres pensantes e políticos ditadores!

Como era bom! Conclui o ensino básico numa única escola pública. Amava aquela “farda”, como era conhecida o uniforme da época, (saia azul “plissada” com blusa branca e tênis Bamba).

Com o tempo foi deixando de ser exigida, pois nem todos podiam comprar, a grade curricular também mudou, já não atendia os pensantes, mas sim os “decorebas”!

A escola tornou-se democrática e os políticos tornaram-se profissionais em desmando da coisa pública!

Como as coisas desandaram!

Lembro-me, que já no final do ensino superior a coisa já estava uma verdadeira desordem, já não se criavam mais “Campus”, passaram a criar “pastos”.

Qualquer prédio desocupado virava Universidade, levantavam-se quatro colunas e estava instalada uma escola pública! As mudanças caminhavam em passos assustadores na educação, claro que isso só no quesito quantidade, pois em qualidade estava cada vez pior. Até escolas de latas foram criadas para adiantar o processo! Um verdadeiro descaso com a qualidade!

Bom, mas não foi de tudo ruim, com todos estes avanços chegaram também novas políticas, veio a merenda escolar, (no meu tempo tinha que carregar “lancheira”, a minha era rosa com uma abertura na parte de cima que era para encaixar a garrafinha de “Q’suco de morango”), veio o uniforme “grátis”, o material escolar também “grátis”, a bolsa escola, a bolsa família e outras bolsas que não são do meu conhecimento, o leite das crianças e o melhor de tudo, sem repetência, era só não faltar durante o ano que a aprovação e o leite estavam garantidos! Quantas novidades! Quantos avanços dos meus tempos de estudante pra cá! Foi diante de um quadro já bastante “metamórfico” que conclui o ensino superior e me formei professora.

Aí, mais de perto, comecei a acompanhar melhor os “avanços” da Educação. (Vou poupá-los e não descreverei aqui os “avanços” dos políticos), e observando bem, o que mais avançou foi a quantidade de “meninos” nas escolas, as más línguas alegam que este aumento é devido a “merenda”, outros dizem que o motivo é o leite, e ainda há outros que dizem que é simplesmente porque os pais tem que trabalhar e não tem com quem deixá-los. Mas o povo fala demais, tem gente que não acredita nas mudanças! Eu acredito e até consigo ver as mudanças; os alunos estão mais fortes, mais despreocupados, mais sorridentes e brincalhões, mais relaxados, mais sem limites, enfim, mais felizes!

Tem uma coisa que eu não poderia deixar de falar. Entre todas estas mudanças, existe uma coisa que não mudou: o “baile” do dia dos professores! Ainda me lembro dos meus tempos de aluna, todo ano tinha o baile dos professores. Observava que neste baile, todos faziam questão de comparecer, muitos professores faltavam para fazer aquela produção de destaque de escola de samba!

Claro, já engajada na Educação, fiz questão de frequentar um destes bailes. Meu primeiro foi o baile dos professores associados ao CPP, (Centro do Professorado Paulista). Passei a noite inteira tendo a sensação de está participando de um baile à fantasia, (no qual fui única a esquecer de por a fantasia), ouvindo uma banda tocar “anos sessenta”(de "Biquíni de bolinha" a "Alô cupido") e “samba roque” a noite inteira, claro, alternados com alguns “boleros” oferecidos aos mais românticos. Quando no dia seguinte me perguntaram se eu tinha gostado da festa e se por lá tinha aparecido muitos “gatos”, respondi que sim, o “gato” caçula aparentava setenta anos.

Óbvio, não voltei em outros bailes dedicados aos professores, traumatizei.

Depois de muitos “avanços” na educação, resolvi voltar ao baile dos professores do CPP e para a minha surpresa, a única coisa que não havia mudado na educação, era o tal baile dos professores. Todos continuavam fazendo questão de comparecer, o mesmo cheiro de naftalina, os mesmos embalos dos anos sessenta, o samba rock, o bolero... O baile continuava exatamente igual aos tempos de outrora, com exceção, do “Ilariê da Xuxa” acrescentado para os mais moderninhos.

Ainda hoje, O nosso professorado continua bailando muito no dia do funcionário público, o resto, está por conta dos “avanços” dos políticos deste nosso país, avançamos tanto que já enxergo o fundo deste calabouço!”