Escrever Ler

Antes de me aventurar na autoria do primeiro conto, ou crônica, não me lembro com qual fiz minha estréia, detive-me a pensar o que eu pretendia: ser um Paulo Coelho, com milhões de leitores pelo o planeta, ou uma escritora, com um determinado público, digamos, admirador de um talento?

A bobeira ia grande, pois quem disse que eu tinha ou que descobriria um talento ao longo de uma Oficina que me introduzisse no beabá da confecção literária? E que se abrisse mão de meus pruridos, conseguiria o sucesso de um Paulo Coelho?

Havia chegado um tanto tarde ao mundo da confecção literária, quiçá atrasada demais. Estava na hora de passar de atiradora de pedras à vidraça, pois devo admitir que muitos livros, e não há a menor chance de dizer quantos, se indagada a respeito, eu deixei sem concluir a leitura por um simples pensamento de que o autor havia caído em erro, ou pior ainda, era enfadonho demais! E tratei também dessa forma as novelas da TV, às quais assisti algumas, até que muito divertidas. Pelo menos foi o que pensei à época, tornando-me assídua expectadora, até achar que EU faria diferente na conclusão do enredo ou...

E agora este direito meu iria passar para mãos alheias! Foi uma fase que serviu para adiar mais um pouco a permanência do lado de cá, da leitora, que se pensava exigente, até a primeira Oficina, onde fui informada sobre o que compõe um texto, como enredo, construção de personagem, qual a definição de um conto, por exemplo. Bah, e eu que nada sabia a este respeito, lia sem “ler”! Quanta coisa por descobrir!

Depois de conseguir um conto, perguntei a uma amiga, que antes da aposentadoria fora professora de Literatura, porque não escrevia, já que sabia tantas coisas! Ao que me respondeu que era muito trabalho, havia gente boa demais no mercado, jovens com talento e garra, aos quais desejava boa sorte! O ofício de escrever era solitário, o contato com o leitor hipotético o mais das vezes. Tive que me calar, cada vez mais desenxabida.

O que não impediu de me lançar a escrever tudo que me passava pela cabeça e, pior, mal saiam do forno os contos, lá iam eles para os concursos literários, sem ao menos uma revisão decente! Depois que saiam os vencedores, eu me dignava a reler a “cria” e tinha que admitir, mesmo que eu gostasse deles, provavelmente seria a única admiradora. E, cá entre nós, saiam de casa com erros de português, os coitados!

Ao constatar que precisava melhorar, tentei estudar Gramática, achando enfadonho e concluindo que era melhor a situação de leitora apenas. Às vezes a vozinha interior, me dizia: será que não tem nada para dizer? Mais de sessenta anos e nada para contar?

Melhor que esta porcaria que adquiriu na melhor livraria da cidade – confesso que comprei o livro pela capa e elogios nas orelhas do dito cujo, que hoje sei também que estes estão à venda – eu seria capaz de fazer! Ou não? Como saber senão tentar? Difícil se expor, hein?

E assim eu continuava ignorando a arenga da vozinha interior. Em face de tal desafio, tomei uma decisão: vou pagar para publicarem um conto, um mini e então terei um livro para dar de presente nos aniversários das amigas! A desculpa é que haveria outros contos. Não se tratava de empurrar o que não servia para vender! E em breve, presenteei todo mundo, vendendo alguns quando me pediram. E escolhi uma editora de São Paulo para não ter que ir ao lançamento.

Depois de algum tempo, fiz outras oficinas, muito breves, cada uma acrescentando algo e eu colocando os resultados na “Escrivaninha” do Recanto das Letras. Freqüentei até uma sobre poesia, para ver se meus textos adquiriam algum veio, digamos assim, lírico, pois eu não sabia de onde saiam os versos, como era a tal inspiração que acometia os poetas! Desta, saí autora de poemas, mas não consegui mais elaborar uma prosa, digamos assim com coerência. Foram noites e noites em claro, envolvida daquilo que eu chamara de bobeira, invertendo frases, falando da Lua, e flores e não sei sobre o que mais me vinha à inspiração. Voltei ao oficio de leitora com muito prazer, agora com algumas respostas para a vozinha interior!

Até que fui pega de jeito: uma oficina no Studio Clio falava de “Imitação de Estilo”, oferecendo a leitura de Don Quixote, que sempre apreciei demais! Só que, também lá havia exercícios, um texto por semana e, até como leitora me vi apanhando. A edição que me cativara há muitos anos era a do Círculo do Livro, com ilustrações e uma tradução, digamos, mais escorreita, quer dizer, bem mais fácil!

A que recebi da Oficina acompanha o estilo do autor, do século XVI, por isto foi escolhida pelo Mestre, é claro.Então estou assim, faço o que posso e até me atrevi a ler um conto para os colegas, que não jogaram pedra, até riram, o que me deixou faceira. E assim, não perdi a oportunidade de ver meu texto revisado pelo Mestre.

Para concluir esta reflexão sobre o ofício de escrever e o estado de leitora apenas, passo a uma digressão a respeito do foi o tema desta semana: falar sobre Dialética, assim com “d” maiúsculo. Como gastei muito espaço com palavrório sobre minhas peripécias, há pouco tempo para discorrer a respeito do tema. Neste caso, vou lançar algo polêmico: ler é também reescrever, para mim pelo menos, que continuo vivendo as aventuras prlos personagens, que substituem qualquer pensamento que me acometa de solidão, ou mesmo de tristeza pela terceira idade que chega e não é a melhor, como apregoam por aí afora.

Concluindo, uma coisa, então é certa para mim: os livros sempre foram, são e serão, meus grandes companheiros, aumentando sua importância à medida que minha mobilidade se restringir, como avanço da idade.

Marluiza
Enviado por Marluiza em 30/09/2011
Código do texto: T3249954