QUANDO JANEIRO CHEGAR

Maria Teoro Ângelo

Está chegando a hora da virada. Quando a meia-noite do dia trinta e um virar janeiro, os fogos de artifício enfeitarem os céus das cidades e os abraços forem todos dados, numa coisa todos vão acreditar. Nossa vida vai mudar, o mundo será melhor, os homens serão mais humanos, o planeta será menos agredido e uma progressão de coisas boas só espera janeiro para acontecer.

É assim que somos inundados por essa onda de esperança. A crença no bem, no poder da renovação embalada pelo significado do Natal. Temos de renascer, recomeçar e fazer dos períodos de um dia ou de um ano os pequenos ciclos de nossa vida.Assim serão mais fáceis de planejar e de perseguir os sonhos mais possíveis.

Começamos o ano com a certeza de cumprir os nossos propósitos. No que depende de nós, a força inicial que move essa atitude é poderosa. Naquilo que foge do nosso controle, entramos no ano novo munidos das promessas, das simpatias, das flores lançadas ao mar, do prato de lentilhas, das sementes de romã na carteira, da peça de roupa rosa ou azul ou amarela, mas novinha que devemos usar nesse dia. Além de tudo carregamos o sentimento de onipotência diante de nosso destino, que para efeito prático tem nova chance no ano que vai nascer.

Se o Natal traz uma certa nostalgia pelas diferenças e injustiças tão evidenciadas, o Ano-Novo traz um alento na crença de que o mal vai acabar.As pessoas prometem cuidar mais da saúde, ficar mais bonitas, aproveitar mais a vida curtindo os detalhes e os momentos, tirar do baú o vidro lacrado de perfume e a roupa no pacote guardados para um futuro sem data.

E dentro do propósito dos ciclos a que nos submetemos, o ano começa com otimismo. Depois vamos reorganizando tudo porque logo vem outra chance e outro ano. Todo ano que termina deixa lá atrás o fardo das nossas experiências e esperamos que a magia do ano novo vislumbre um amanhã cheio só de luz. Queremos o mundo melhor, queremos ser melhores, mas teremos de enfrentar os desencontros, as surpresas e principalmente os outros.

O bom mesmo seria poder filtrar as lembranças deixando para trás os nossos insucessos e só levar conosco pelo futuro, que começa a toda hora, uma bagagem fácil de carregar feita da leveza das coisas belas.