a aposta



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Não se sabia o que elas faziam todos os dias, debruçadas naquele peitoril de janela, sempre às 7h da manhã.
 

 

Eram mãe e filha mas ninguém sabia dizer quem era quem.
 

 

Jovens bonitas e bem cuidadas,eram duas mulheres comuns desejando esgotar o tempo vendo-o passar pela velha rua poeirenta daquela cidadezinha naquele fim de mundo.
 

 

Punham-se ali às 7 e se retiravam, pontualmente, às 8:30. Parecia até que era uma devoção ou quem sabe uma promessa?
 

 

Intrigado com as duas, o dono da padaria,Zeca,que havia percebido aquela atitude bizarra -para ele- resolveu postar-se às escondidas a fim de ver o que acontecia ou iria acontecer naquele intervalo de tempo. 
 

 

No primeiro dia ele ficou um tantinho cansado de muito esperar por uma novidade, e nada! 
 

 

Nos dias que se seguiram, a mesma coisa, nadica de nada aconteceu, aos seus olhos curiosos.
 

 

Cansado daquela penitência de espionar a vida alheia, desistiu da empreitada e voltou ao seu posto de dono de padaria, afinal de contas quem engorda o boi é o olho do dono, assim dizia para si mesmo e argumentava: - se fico a espionar a vida destas duas como posso ver o que acontece na minha padaria? 
 

 

Os dias se arrastavam naquela cidadezinha onde quase nada acontecia, quando Zeca recebeu um convite das mulheres da janela para um jantar na sua casa.
 

 

Desconfiado, lá se vai, todo arrumadinho como se fosse para uma festa.
 

 

Após os aperitivos de entrada foi servido um guisado de tatu que o homem comeu e lambeu os beiços.
 

 

Findo o repasto ele agradece às duas e pergunta o porquê daquele jantar tão acolhedor e íntimo?
 

 

A mãe preparava-se para responder quando foi aparteada pelo homem:
 

 

 _ Antes, dona Maria, a senhora pode me responder, se não for entrar na sua intimidade, o que vosmecês fazem todos os dias das 7 às 8:30 da manhã, debruçada na janela da frente?
 

 

 _ Sabe não meu amigo?
 

 

 - Não sei não, me diga, por favor...
 

 

_É o seguinte: nós estávamos na tocaia deste tatu que comemos no jantar.
 

 

 - Na tocaia? 
 

 

_Sim! ele todos os dias passeava pela rua e eu pensei em pegar e lhe fazer um agrado.
 

 

- E por que este agrado a minha pessoa, madame?
 

 

 _ Sabe não amigo? 
 

 

- Não sei não, senhora;- porquê?
 

 

 _ Pra ganhar a aposta que fiz com a sua esposa.
 

 

- Aposta? que raios de aposta foi essa?
 

 

 _ Ela  me garantiu que o amigo não aceita nenhum convite de mulher.
 

 

- E apostaram o que mesmo? -perguntou o Zeca.
 

 

 _ Se eu ganhasse ela iria me fornecer, de graça, um ano de pão e leite da sua padaria, que também é dela, pois não...
 

 

- E se ela ganhasse, a amiga daria o que mesmo?
 

 

 _ Eu nunca mais compraria fiado na padaria do amigo.
 

 

 - Arff...bufou o Zeca saindo como um furacão ...
 

 

_ Calma amigo...vem cá! Vamos negociar o meu débito atrasado
 

 

O homem voltou-se, fez um gesto deselegante para a mulher e sumiu para sempre daquela cidadezinha peçonhenta...
 

 

As duas, deram-se por satisfeitas por não terem que pagar o atrasado e começaram a pensar num plano para o açougueiro...
 

 

 

soninha
 

 
Sônia Maria Cidreira de Farias
Enviado por Sônia Maria Cidreira de Farias em 29/10/2011
Reeditado em 29/10/2011
Código do texto: T3305754
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