REGRESSO A CASA DA MINHA MÃE

REGRESSO AO LAR

Lembro-me quando comecei a tomar forma dentro de você, comecei a lhe incomodar e você foi logo ao consultório médico, preocupada e meio que desconfiada, pois seu ventre começava a ficar protuberante. Quando o médico disse para não se preocupar que era apenas uma gravidez, você ficou irradiante de alegria e logo toda a família e amigos, ficaram sabendo da minha futura chegada.Quando minha mãozinha surgiu fiz uma grande festa dentro de você,desejei logo ver o mundo externo, cada desejo meu você satisfazia como se estivesse entendendo o que se passava dentro daquele pequeno ser que estava dentro de você. Fiz você ter desejos estranhos que jamais pensou ter um dia.

Quando nadei pela primeira vez quase me engasguei de tanto rir da sua ingenuidade, falou para todos que eu estava me mexendo! Fiquei ansioso para ver suas feições de felicidade e carinho pelo rebento que estava por vir. Voce colocava aquelas roupas folgadas e dizia que era para não apertar o bebe, a cada dia que passava eu crescia e você ficava mais redonda com um barrigão que começava a estriar. Vi que começava nascer uns pelinhos na minha cabeça,fiquei felicíssimo porque não iria nascer careca,já bastava nascer desdentado.

Os dias e meses foram passando e eu via você preparando as roupinhas para minha chegada, estava eufórico para lhe fazer uma grande surpresa,todos diziam que eu era mulher,ficava bravo e a única coisa que podia fazer era mexer com as pernas para você dizer aos outros que eu estava chutando sua barriga. Além de dizerem que eu era mulher,ainda tinha que ficar de olhos fechados e naquela posição incomoda. Quando você andava eu sentia um grande alivio pois só assim eu conseguia nadar e me exercitar para o dia “D”.

Finalmente as 10:00 do dia 10 de maio de 1960 em uma segunda-feira,senti algo estranho me apertando expulsando-me da minha casinha,ouvi seus gritos e gemidos de dor,fiquei terrivelmente assustado pois nunca tinha ouvido você chorar,gritar e rir ao mesmo tempo. De repente senti uma frieza na minha cabeça,pensei que o mundo ia desabar quando aquela mão pegou meu pescoço e começo a puxar,aquele vento frio começou a percorrer meus ombros até chegar aos pés,então me seguraram de cabeça para baixo como se eu fosse um animalzinho, agora senti uma mão pesada na minha bunda,não me contive protestei veementemente abri a boca e comecei a chorar,então todos começaram a sorrir,não entendi nada! até minha mãe estava sorrindo de felicidade ao ver meu choro.Foi então que começou a sessão de tortura, aquela mulher me pegou e me botou dentro de uma banheira fria que pensei que iria me matar afogado.Depois me cobriram com panos sedosos e cheirosos, me colocaram pertinho de você e pude observa-la de perto,você estava tão feliz que colocou a mama na minha boca e eu suguei aquele leitinho quente e gostoso e logo adormeci.finalmente eu tinha nascido,visto a luz do dia,outras pessoas tão diferentes de mim,não estava mais naquela posição dentro do seu útero, surpreendi a todos quando olharam para baixo do meu umbigo,foi uma exclamação geral virgem Maria! É um cabra macho,você ficou toda boba pois acabara de trazer ao mundo um primogênito. E hoje minha mãe, 51 anos depois volto a vê-la com a mesma ansiedade de quando nasci,volto para ter a felicidade de ver seus cabelos brancos enfeitando sua cabeça e dignificando o frescor de uma juventude passada.volto para dizer mais uma vez o quanto estou feliz em revê-la, e lhe desejar um feliz ano novo cheio de felicidades e realizações,volto para dizer-te eu te amo...mamãe.

Fortaleza,31 de Dezembro 2011.

O texto original foi escrito em Dezembro de 1984.

ARTONILSON MACEDO BEZERRA
Enviado por ARTONILSON MACEDO BEZERRA em 04/01/2012
Código do texto: T3422668
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