Encontro inesperado

E quem diria que o encontraria bem ali, na sala de espera do meu dentista... Chegou, sentou-se à minha frente, olhou-me nos olhos direta e profundamente, sem medos ou receios, incomum acontecer hoje em dia com pessoas que se encontram e conversam desviando olhares.

Teríamos marcado esse encontro? Há quanto esperamos isso e no entanto, o tempo correu rápido demais, mal deu tempo de nos reconhecermos. Enquanto falávamos sobre tudo, sobre o mundo, os problemas e soluções do cotidiano, nossas almas voaram para algum lugar onde pudessem ter a tranqüilidade necessária para simplesmente sentirem uma à outra.

Ele, o mesmo de antes. Falando demais e dono de uma sabedoria ímpar. Por muito buscou o conhecimento que detém hoje, mas ainda não está satisfeito, é o tipo de pessoa que sempre busca, não descansa nunca... Amante da arte, outro dia mesmo estava vivendo a ópera que tanto cantou, um tenor adorável. Faz da arte sua forma de vida, nu de todo preconceito, liberto de todas as amarras, livre das ancoras que nos prendem impiedosamente ao chão de uma realidade ilusória, continua abrindo suas asas e deixando-se planar sobre o infinito que há dentro de cada um de nós. Não teme o que é e reconhece suas imperfeições, mas não desanima, não pára, não desiste da luta, fato esse que o torna um admirável guerreiro que tem por arma um belíssimo e delicioso sorriso que contagia a todos.

Nesse curto tempo que tivemos naquela sala ele se preocupou em passar-me o máximo de informações possíveis, como se quisesse me dar todo seu conhecimento de mundo, de gente, de alma e eu mais que depressa aceitei e mergulhei naquele mar de conhecimento que ele me ofertava tão alegremente.

Não sei o que andou fazendo da própria vida, mas sempre soube que se daria muito bem. De alguma forma eu sabia e confiava que seus passos o levariam ainda mais ao crescimento e hoje, constatando isso me emocionei e lhe dei meu sorriso que dizia do meu orgulho por vê-lo como o vi, um vencedor.

Quem é ele? Acho que isso não importa muito agora, pelo menos não aqui nesse mundo caótico e selvagem existente fora daquela sala de espera. Não, realmente não importa... O que importa é que sendo hoje pai, avô e bisavô, consegue olhar para as pegadas que deixou no seu caminho e ver que o desenho que ficou é belíssimo e digno do artista que carrega em si. Importa saber que a vitória está ao alcance de todo aquele que não teme a vida, que não deixa a maravilhosa arte de viver para o dia seguinte, importa o conhecimento que adquirimos no decorrer de toda nossa existência e o que fazemos com ele, importa o caminho que optamos quando diante dos obstáculos que aparecem, um a um...Importa sim nos reconhecermos ao nos encontrarmos nessa imensidão que é o universo, e deixarmos nossas almas falarem daquilo que nossos ouvidos não conseguem escutar e sentirmos em nosso universo interior que tudo está em paz, que somos vitoriosos simplesmente pelo fato de estarmos aqui e que o mundo é muito mais do que jamais ousamos imaginar.

Seu nome? Não sei, mas sei que muito dele ainda está em mim e que nossos universos estarão sempre ligados no mesmo abraço que envolve a vida.

10/01/2007

Aisha
Enviado por Aisha em 11/01/2007
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