Cthulhu e a revolta submersa

Esse último caso de loucura individual explodindo no meio coletivo fez-me pensar em uma teoria digna da ficção-científica. Recapitulando: Michel Goldfarb Costa, artista plástico, após recorrentes estados de estresse (devidos a supostas altercações com vizinhos), perdeu a cabeça. Saiu para a via pública roubando e danificando veículos. Como se isso não bastasse, disparou contra duas pessoas, ferindo outras.

No célebre conto intitulado “O Chamado de Cthulhu”, H.P. Lovecraft refere-se a um monstro oculto no fundo do mar, o qual sonha em seu sono eterno e que, sonhando, influi nas mentes de sujeitos suscetíveis – no caso, artistas. O jovem Wilcox, escultor, tem sonhos horríveis nos quais vê a câmara submarina onde o monstro ancestral repousa semimorto, disso resultando várias alterações em sua saúde mental. Obviamente que isto é pura ficção, mas o caso real em questão tem lá suas semelhanças com o imaginado pelo escritor fantástico.

Enquanto isso, no âmbito da nossa Região Sudeste, milhares de pessoas sofrem os efeitos das recentes chuvas: inundações, desmoronamentos, perda de patrimônio e, inclusive, vidas. E o Ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, pernambucano, destina 90% da verba disponível para ações de prevenção a desastres ao (coincidentemente?) Estado de Pernambuco. Alega o ministro que a referida destinação de recursos é legítima – mas que legitimidade pode haver nesse favorecimento ultra-regionalista? Pernambuco não corresponde a mais que 2% de todo território brasileiro, sendo uma insignificante tripa de terra se comparado à enormidade deste país. Que integração nacional é essa? Enfim, acredito haver aí suficientes motivos para revolta.

Goldfarb Costa e o jovem Wilcox possuem em comum a sensibilidade artística. A revolta é o grande Cthulhu submerso no mar das massas, sonhando com uma justiça social virtualmente improvável. No conto, o monstro aguarda pelo momento propício, um alinhamento de astros que o fará despertar. Ainda que meio morto, ele sonha. Esperemos que nossos céus não vejam essa configuração terrível – e que o povo, em conjunto, não venha a perder a cabeça diante de tais injustiças.

Damnus Vobiscum
Enviado por Damnus Vobiscum em 13/01/2012
Reeditado em 13/01/2012
Código do texto: T3438403
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