Chucromania

Wilson Correia

Que os humanos somos falhos, limitados, inconclusos ninguém nega. Se fôssemos anjos, estaríamos no céu. Por isso, vez ou outra os humores vários nos assaltam. Quem nunca se viu colérico diante de extremas situações de desagrado e desconforto?

Porém, a chucromania é a tendência (duradoura) pela qual a pessoa se faz, constantemente, grossa, intratável, selvagem e bravia. Estariam essas características no DNA do macunaímico sujeito nacional, chucro e mal-educado?

Se for, não estamos bem, como quando nos vemos diante de pessoas sem a mínima polidez nos tratos com os semelhantes, sem a ‘finesse’ que, antes da astúcia e esperteza malandras, é a sutileza, a delicadeza e a vidência voltadas para o êxito no trato interpessoal.

Mas os malandros toscos pululam. Deparamos com eles todos os dias, trazendo-nos a ocacidade das palavras e a obtusidade transbordando na mente e no coração. Uma aposta na opacidade de nossa sensibilidade, no que erram, e feio.

Diante de um chucromaníaco, gentileza jamais gera gentileza –e aqui vai minha discordância com a ideia simplória de que o bom atrai o bom, o bem engendra o bem e de que educação atrai educação. Nem sempre! Não em todas as situações!

Só o chucro pode libertar-se da chucromania. O que se pode fazer por alguém a quem se dedica tempo, atenção, cuidado, zelo, colaboração e que, em troca, devolve-nos a “amabilidade” tiranossáurica dos primitivos seres?

O educador tem, por dever de ofício, que acreditar na perfectibilidade humana. No entanto, nem mesmo a educação consegue, às vezes, fazer com que a superação da chucrocidade tenha êxito. Vexatório e alarmante.

É aí que se vêem pessoas altamente qualificadas na constância da chucromania explícita. Também pudera! Títulos jamais trazem fineza, educação e a sabedoria dos bons modos na vida social. Uma pena, um lamento.

Pessoas que não reconhecem a generosidade que lhes é destinada acabam demonstrando que não mereciam o desvelo. Melhor para quem está no pólo positivo, que reconhece a intratabilidade e dela foge, para salvaguardar o amor-de-si.

Que mundo, não? Até quando o egoísmo, a estultice e a inépcia ousarão alterar nossa luta por um mundo em que a convivialidade seja lastreada na doação compartilhada? No amor-de-si que se estende ao outro como forma de auto-amorização?

Que a educação nos aponte um caminho, senão o da redenção dos chucromaníacos, ao menos das pistas para sabermos identificá-los: saber separar o joio do trigo nessa ceara grotesca já é meio caminho andado. Na outra metade, que deixemos os chucromaníacos para trás, lembrando que a generosidade continua boa companheira.