As peripécias de Dorothy

Era início de noite e estávamos em casa - eu e Dorothy. Minha filha tinha ido a um evento gospel. Eu havia acabado de tomar banho quando despencou um temporal: raios, trovões, muita água desabando. Por precaução, já desliguei a net e a TV. Peguei fósforo e vela, coisa mais primitiva, mas prefiro ao lampião a gás.

Percebi que os fortes ruídos do temporal assustaram Dorothy e fui até ela, tentando acalmá-la. Então resolvi preparar uma rápida refeição: um bife, uma boa salada e fatias de pão com manteiga na chapa. Não foi nada fácil. A cadelinha tentava me enganar, pegando panos de prato, utensílios, etc... Na verdade, a “beagle americana tricolor” só queria brincar. Eu tinha que prestar atenção no preparo da comida e nos perigos que envolviam Dorothy. Mas ela bem que pressentia todos eles. Queria mesmo as toalhas, os panos de prato. Ela tem uma variedade de brincadeiras com panos, que é de admirar. São muitos movimentos dançantes e brincadeiras criativas.

Preparado o meu prato, vi que teria que ir para a sala de jantar ou não conseguiria comer tendo a companhia dela ali na cozinha. De lá, Dorothy me olhava pela porta de treliça e eu ia conversando com ela, que ficava sentadinha ao pé da porta.

De repente, ela se retirou e ouvi o som de algo de metal caindo. Corri ao seu encontro, com medo que tivesse alcançado um talher ou algo assim.

Ela corria, arteira, como se estivéssemos brincando. O espaço era limitado, apenas minha restrita lavanderia, mas deu o que deu para recuperar o objeto que ela havia apanhado: meu relógio de pulso. Precisei de muita estratégia para vencer a inteligente cadelinha.

O relógio sobreviveu aos dentes fortes e eu fui brincar com ela até que se cansasse, o que aconteceu bem depois do meu próprio cansaço... Bebeu muita água e deitou, barriguinha subindo e descendo numa respiração sincronizada e diafragmática, a coisa mais linda. Logo adormeceu ali no seu cantinho provisório.

A tempestade passou e voltei à internet e à televisão. Tudo estava tão tranqüilo, quando minha filha chegou, já perguntando por Dorothy. Contei o ocorrido e rimos até!

Só havia um porém...eu havia esquecido de apagar a luz da lavanderia. Quando a luz foi apagada, Dorothy acordou e aí foi mais uma sessão de esconde-esconde com o pano preferido dela.

Acho que ela nem sabe, mas está me fazendo muito bem!