OBRA DO ACASO

OBRA DO ACASO

Maria Teoro Ângelo

Entre o sortudo milionário da loteria e as pobres vítimas da cratera do metrô de São Paulo há um traço comum: o acaso. Esse momento inesperado, imprevisível e imponderável traz o bem e o mal. As forças do universo começam a se organizar lá atrás e o desfecho acontece.

Tanto no caso de ser premiado num jogo quanto ser engolido pela terra há um percentual de probabilidades. Por ironia, muitas vezes é o mesmo. Por conta do acaso pessoas entram em nossa vida e podemos estar no lugar certo ou errado na hora certa ou errada. Para mudar o rumo dos acontecimentos bastaria apenas um atraso por uma visita inesperada, um telefone que toca, uma indisposição passageira, uma insegurança que nos faz voltar para checar se fechamos mesmo a porta ou uma afobação e ansiedade que nos fazem sair mais cedo. Como nunca sabemos o futuro, não podemos decidir se é melhor correr, ir bem devagar ou nem sair de casa.

O acaso determinou que o ganhador dos milhões escolhesse tais números e as bolas numeradas insistissem em sair.E, da mesma forma determinou que aquelas pessoas estivessem naquele ponto do caminho na hora fatal e sofrido a pior das mortes.

O acaso é essa força desconhecida, aleatória que em muitos momentos rege a nossa vida. Nascemos por acaso. Bastaria que nossos pais não tivessem se conhecido, não estivessem juntos naquele dia e nós, assim como somos, não teríamos nascido, porque aquelas duas células não se encontrariam mais.

Passamos a vida torcendo e desejando que o acaso faça um amor chegar, tire a nossa intenção de viajar no dia em que o avião caiu, o ônibus foi incendiado, não ir àquele prédio que pegou fogo e logicamente marcar os números que serão sorteados. Que encontremos pessoas amigas, que escolhamos um trajeto diferente do assaltante, uma rua que não irá se abrir de repente.

Mesmo planejando com racionalidade os caminhos de nossa vida, somos surpreendidos pelas surpresas que não eram para acontecer: um engano, uma maldade, uma derrota, uma traição. Outras vezes, mesmo sem planejar, somos premiados com a chegada do bem-vindo acaso do bem.

Só sei que em cada esquina há acasos e acasos e portanto devemos estar prevenidos. “ A morte é para qualquer momento, por isso não podemos estar de pijama”. Foi mais ou menos assim que disse Guimarães Rosa.

Lillyangel
Enviado por Lillyangel em 17/01/2007
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