PATO N'ÁGUA - UM SAMBISTA DO POVO MORTO EM 1969 - O MELHOR MESTRE DE BATERIA É MEMÓRIA VIVA NA HISTÓRIA DO SAMBA PAULISTA - TEM QUE SER LEMBRADO SEMPRE!!

1969, ano em que o General Garrastazu Médici assume a Presidência da República, como terceiro Presidente da República Militar(Ditadura Militar). A polícia repressora ditava todas as diretrizes contra a população que se manifestava contra o regime. Torturas, assassinatos, exílios, prisões arbitrárias, eram os maiores enredos deste regime cruel e sanguinário.

Neste mediar de tempo em alguns Estados da federação, instituiu-se o famoso e temível esquadrão da morte, polícia que aplicava a pena de morte sem qualquer julgamento prévio.

Lembro-me bem de uma reportagem que eu li, ainda na infância, de um suposto bandido negro executado nas imediações de Guarulhos, cidade próxima à capital. Manchete ( BANDIDO MORTO PELO ESQUADRÃO DA MORTE!).

Com toda a turbulência que se abateu sobre os brasileiros, o Pais nunca deixou de ser o País do carnaval, do samba e do futebol e, aqui em São Paulo, entre Jovem Guarda e bossa nova, os bambas do samba, já acostumados historicamente com a repressão policial que violentamente tentava acabar com as manifestações culturais negras, davam chutes na ditadura e mandavam o batuque para frente.

Dentro desta turma dos bambas do samba, emergiram grandes nomes e notáveis como Dionísio Barbosa, fundador do grupo da Barra Funda, Madrinha Eunice, fundadora da Escola de Samba, Lava Pés, Pé Rachado e Pato N'Água, fundadores da Escola de Samba Vai Vai, Carlão do Peruche, Geraldão da Barra Funda dentre outros.

No Samba Paulista, um nome tornou-se legendário e lendário. Era um exímio jogador de tiririca(Capoeira).Dançava samba na aba do chapéu. Um mestre de bateria impecável. Mestre do apito como ele mesmo gostava de ser chamado.

Era o diretor de bateria da Escola de Samba Vai Vai, escola que ajudou a fundar no Bexiga. Também era chefe da torcida uniformizada do Corinthians.

" Segundo narração de Plinio Marcos, o mestre de bateria resolveu tirar o dia para visitar as cabrochas, as suas cabrochas no extremo da zona leste. Contratou um taxista para ficar à sua disposição o dia inteiro. O taxista, desconfiado, talvez por ser Pato N'Água negro, ligou para a polícia. O mestre de bateria durante o seu trajeto visitava uma comadre, para tomar um cafezinho, visitava outra também, e, assim sucessivamente ia matando a saudade das suas cabrochas. (Ou será que já era uma despedida?)

No dia seguinte Pato N'Água foi encontrado boiando em uma lagoa em Suzano. Não foi de susto, porque Pato N'Água era corajoso! Não foi afogado, porque nadava como um pato N'Água. O que se sabe é que foi crivado de balas! O que aconteceu ninguém sabe! Defunto não fala.

A notícia chegou ao Bexiga e às comunidades do samba fazendo estrago como uma bomba, na hora da Ave Maria! O Povo do samba chorou! E o Geraldão da Barra Funda, o Geraldo Filme, chorou junto com o samba" Silêncio No Bexiga" Uma verdadeira exéquia para o amigo Walter Gomes de Oliveira, o Pato N'Água, como diz um dos versos do samba: Sambista de rua morre sem glória....E Pato N'Água , um mestre de bateria que era impecável no apito, é muito pouco lembrado pelos anais do samba, exceto pelos seus amigos sambistas e parentes. mas mestre Pato N'Água, está sim na história do samba. Na história do samba Paulista. Um marco do carnaval! Um marco da história da cultura brasileira e da história! Talvez seja apenas um número. Dizem que foi uma vítima do ESQUADRÃO DA MORTE EM PLENA DITADURA MILITAR.(Fato não comprovado com documentos: São apenas suposições e especulações) citadas em vários escritos sobre o assunto. O que foi verdadeiro é que o Pato foi assassinado e o carnaval paulistano perdeu o seu grande mestre de bateria.

"Texto tirado do artigo A História do Samba de São Paulo,publicado nesta página"

Pra contar o final da história, Plínio Marcos, em um texto que saiu no dia 13 de fevereiro de 1977 na Folha de S. Paulo: "O que se sabe é que a notícia chegou no Bexiga à tardinha, na hora da Ave-Maria, e logo correu pelos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado do bom Deus. E por todas as quebradas do mundaréu, desde onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos, o povão chorou a morte do sambista Pato Nágua. E o Geraldão da Barra Funda, legítimo poeta do povo, chorou por todos num bonito samba chamado Silêncio no Bexiga".

SILÊNCIO NO BEXIGA

(Geraldo Filme)

Silêncio

O sambista está dormindo

Ele foi mas foi sorrindo

A notícia chegou quando anoiteceu

Escolas

Eu peço silêncio de um minuto

O Bixiga está de luto

O apito de Pato N'água emudeceu

Partiu

Não tem placa de bronze

Não fica na história

Sambista de rua morre sem glória

Depois de tanta alegria que ele nos deu

Assim

Um fato repete de novo

Sambista de rua, artista do povo

E é mais um que foi sem dizer adeus

Silêncio