Casa de educadores, espeto de pau

Wilson Correia

O dicionário afirma que “urgência” quer dizer qualidade do que é urgente, imediato, aperto.

Isso pode se tornar um estilo de gestão? A considerar minha experiência docente atual, sim, pode!

Raros são os encaminhamentos de processos administrativos, vindos de setores da administração central e do câmpus universitário em que atuo que não sejam acompanhados do carimbo de “Urgente!”.

O termo, aí, funciona como um dispositivo decisório que instrumentaliza práticas de gestão fundadas no “a priori”: o que já está decidido nas alcovas e nos corredores e salas e mesas de bar e em lugares onde a sombra do interesse de grupos asfixia necessidades republicanas é aparentemente colocado à “consulta”, “apreciação” e “deliberação” daqueles que se encaixam na etiqueta do “dos demais”.

Tem sido assim, seguidamente, diuturnamente, sistematicamente, organicamente, administrativamente, pessoalmente, profissionalmente, institucionalmente, academicamente, gestionariamente, carreiramente... e sob a capa da “administração colegiada”, da “construção coletiva” –etiquetas discursivas que mais servem para defraudar o verdadeiro processo democrático, o respeito às competências, a consideração pela dignidade pessoal e profissional alheia.

Alguém parou para questionar a “urgência” dos “urgentes”, que nada mais querem além de perpetrar as próprias decisões, à revelia dos legítimos processos decisórios abertos, arejados, nutritivos, livres, engrandecedores, educativos, formativos, capazes de nos fortalecer como pessoas, profissionais e instituição que deve atuar em nome da sociedade que a mantém?

No “afogadilho” eu afogo o tempo físico e subjetivo de que o outro necessitaria para amadurecer decisões. No “urgente”, eu decreto a impossibilidade da construção compartilhada das decisões e das ações. No “imediato” eu decreto o desnorteamento, a desconstrução do consenso. No “aperto” eu tenho mais chances de submeter o outro a um trabalho de faz-de-conta. Levo todo mundo a perder tempo, a se sentir defraudado, a não ter respeitados seus domínios específicos, suas competências, suas vozes, suas opiniões.

Até quando nossa saúde poderá resistir? O corpo adoece com isso? Sim! A razão cai moribunda com esse tipo de atropelo? Sim! A subjetividade se objetiva em decisões prematuras e desconcertantes? Sim! A mente tende à loucura? Sim –porque, para a loucura, basta a ambigüidade do “sim” e do “não”, encenados em teatros nos quais seres humanos não são considerados em suas sensibilidades, em seus pensamentos, em seus compromissos, em suas posturas vitais, em seus estilos ôntico-existenciais. Enfim... em suas vidas!

Casa de educadores, espeto de pau. Pau que nos apanha a todos e nos lenha, quando as necessidades educacionais que batem à nossa porta nos pedem: humanidade, ‘fair play’, gente que se reconhece em gente, humanos que se legitimam nas humanidades circundantes.

Oh! estrela subinte, você sabe me dizer em que fonte devo beber da água que me fará suficientemente forte para não desistir?