APOCALIPSE

Ontem, o céu da tarde mineira ofereceu um espetáculo apocalíptico.

Como em outros dias, pesadas nuvens prenunciavam a chuva, afinal, estamos mesmo na época. Mas...

O que vi diante de mim, foi uma massa negra e espessa, que dividia horizontalmente o espaço celeste, deixando para trás um trecho amarelado pelo quase crepúsculo, e se arrastava lenta e pesadamente, como se desejasse engolir tudo. Porta-voz dos trovões que viriam, um vento forte revirou frágeis telhados, assustou árvores e enlouqueceu o sino-dos-ventos que tão suavemente costuma tocar em minha varanda. Assustada, recolhi-o e a mim mesma.

Confesso que pensei no fim: da era, dos tempos, do mundo...

Mas a chuva veio e, decepcionantemente, nem tão forte assim. Ainda bem!

O dia seguinte foi de sol, uma linda tarde, um irrepreensível anoitecer.

A natureza, como a vida, nos mostra sinais.

O que ontem me horripilou e me fez crer no final, revelou-se só uma imagem. Certamente, imagem e sensações arraigadas em mim. Meus pensamentos e temores impressos naquele céu de chumbo. E só.

O sol, ainda independente da nossa vontade e mesmo indiferente à ela, renasce a cada dia.

O sol e a vida...

(11 de janeiro de 2007 - em BH)

Maria Luiza Falcão
Enviado por Maria Luiza Falcão em 26/01/2007
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