FOTOGRAFIAS DO AMOR

O jogo do amor é ritual de passagem, hotel com reserva antecipada para os amantes. Transforma muitos em estátuas de admiração; provoca terremotos interiores em nossas placas emocionais. Pelo seu corpo chega desnuda a manhã das vontades, os copos embriagantes do desejo.

O jogo do amor tem principiantes. Pode ser o início de tudo. Todavia, é com os iniciados, já em maioridade, que costuma revelar sua imensidão; que espalha no ar a tensão da conquista, do encontro que ultrapassa o limite dos corpos. Desdobrar os mapas da sensibilidade que o amor nos oferta exige intuição e aprendizado. O jogo do amor requer conhecimento de várias regras, inclusive a da exceção, que nos diz a hora de extrapolar as leis e circunstâncias. Jogar os dados e conseguir um general sem ter todas as pedras iguais, conquistar o tabuleiro sem derrubar rei ou rainha. Aliar-se no jogo do amor é preciso. Saber a hora da independência, nossa e do outro, também. É como manter as casas da liberdade com portas abertas e saber a hora de fechar os vitrôs. O jogo do amor traja vestes longas e misteriosas como o próprio universo. Descobrir a hora de orbitar é estar uma lua à frente. Mulheres são especialistas em derramar a cauda dos cometas da sedução. Cometas e estrelas viajantes diante dos olhares curiosos e cobiçosos.

O amor também veste verões com minissaias e biquínis. Faz musculação para exibir corpos sarados e ainda assim tem como músculo principal o coração. Há os que prefiram as sinapses do entendimento e a beleza das construções verbais, construindo castelos ou cabanas para se amarem sob o lençol das palavras. O coração das palavras também tem luz. Metade estrela, metade biblioteca da vida. Sinônimo de coração vira cérebro em momentos como este. Não estranhe as estranhezas do amor! Ser autêntico o verdadeiro amor, tão estranho como cada um de nós. Tão velho quanto a juventude. O Taj Mahal é mais que uma construção, é uma obra de amor e arte. Lembra-nos que o amor mistura sons e produz unicidades. Colar os lábios da vontade é unir cidades pelo amor, é lembrar que o jogo do amor é língua universal até mesmo para idiomas diferentes. Artifício de dois olhares e uma piscada.

Recados habitam sorrisos e inesperados que se afirmam pela negação no jogo do amor. O convite, não raro, vem pela resistência, pelo desafio dos limites próprios e do outro. Nem tudo é um teste, mas muitas coisas são. No jogo do amor meia-palavra vem inteira enganar quem não sabe a língua dos sinais, quem não aprendeu a multiplicar quietudes, quem não viu que fechar os olhos pode ajudar a enxergar. Quem ama inaugura emoções. Basta ser amado? Amadores erram muito. Não tentar amar é erro maior. Os maiores também amaram, também amam, também perdem. Perder a cabeça pode ser encontrar o coração. Ou não. Quem ama também é inaugurado por alegrias, emociona-se e estaciona as vontades a espera do outro, ao encontro do outro. “Quem ama, ama”. O jogo do amor exibe mapas de lugares desconhecidos em nós. Por isso, amar é inventar paisagens. Quase todos amam. O negativo do amor só revela as cores do jogo nas condições certas. Apesar do jogo, o amor não deve ser um esporte. Coisa de louco. Ora o amor enlouquece ora cura loucuras. Loucura maior é não amar e secar ao vento das solidões. No amor platônico solidões existem em conversas com travesseiros até chegar o horário de uma aurora. Horas a fio de saliva alimentam jovens. Somos sempre jovens quando amamos. Com a pessoa certa o amor é uma oração. Encontrar o verdadeiro amor é caminhar Roma ao contrário e conquistar o espelho do outro. É continuar jogando, mesmo quando a vitória já foi decretada. Há vencedores no jogo do amor? Ambos ganham e perdem. Ainda assim, o amor não carrega arrependimentos, faz aprendizados. Jogos de meia hora podem durar até o encontro das retas paralelas. Independente da distância, fotografias do amor falam por si. Falam por nós, mesmo sabendo que amar é chegar à ausência das palavras, mesmo descobrindo que não mais se precisa delas.