Recife, beleza emoldurada pelas águas

O terraço dá para o Rio Capibaribe. A hora da vista mais bonita é quando o sol está a se pôr, iluminando as águas com seus raios, enchendo de diversos matizes as ondas calmas e eternas desse rio, o mesmo rio que está a nos embevecer e inspirar, há mais de quinhentos anos e que serviu de testemunha de tantas histórias vividas no Chanteclair e no Paço Alfândega, quando este era bem menos opulento que hoje.

Não importa, o percurso das águas é o mesmo, o mistério insondável de sua existência e profundidade é o mesmo, o que mudou e vai continuar a mudar, são as circunstâncias das vidas entrelaçadas no seu entorno, são os acontecimentos vividos por essas tantas vidas que completam sua paisagem. No entanto, não importam essas vidas, não importam as mudanças de cenário. Importa a grandeza e a beleza que nos enchem os olhos, quando debruçamos nossos braços na varanda do último pavimento do Paço Alfândega, e viajamos entre o passado e o futuro, e nos emocionamos com o presente.

Assistimos a casais apaixonados que congelam imagens do seu amor tendo ao fundo a vista maravilhosa das torres gêmeas, recém - construídas no cais e que são o símbolo do modernismo que chega a este bairro, como se ele estivesse sendo redescoberto e novamente apaixonando seu povo, que hoje sente forte a importância de nele habitar, como uma volta às origens, marcada pela existência de uma necessidade de afirmação, de grandeza, de opulência.

Na varanda desfrutamos da visão de velhos com seus netos, apresentando a estes o símbolo do começo, o motivo pelo qual nosso Recife nasceu , cresceu, se desenvolveu, assim como eles que hoje passam aos seus descendentes, suas experiências, a história de suas lutas, de suas conquistas e de suas vitórias, como que querendo atestar junto aos seus, a participação decisiva e efetiva desta cidade ímpar em suas vidas.

Na mesma varanda, ainda há mulheres sozinhas, que contemplam o rio, as pontes, o antigo casario, pelo simples prazer da contemplação que as faz viajar no tempo, no espaço, na emoção.

Recife, beleza emoldurada pelas águas. Recife antigo? O novo te abraça, te acarinha e não deixa que te esqueçam te despertando ao som das alfaias, te instigando com a música que chega do asfalto, do mangue, dos altos.

Recife, arrecifes, calçada do mar, que num encontro suave com o rio, dá vida a tantas vidas que dele vivem, mergulhados na lama redentora dos mangues que tanto amam, sim, é desse universo que vem o alimento e a força dos filhos dessa terra. Terra essa que renasce a cada dia, a cada amanhecer, como o rio que tem as suas águas eternamente renovadas no ir e vir do mar, este mar que batizou este nosso amado lugar, Recife.

Wanusa Pinto
Enviado por Wanusa Pinto em 21/04/2012
Reeditado em 21/04/2012
Código do texto: T3626076
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