Dicró

Há poucos dias, precisamente no dia 25 deste mês de abril, Carlos Roberto Oliveira, o Dicró, embarcou rumo ao “Só volta se Reencarnar”. Levou na bagagem os diplomas de um gozador da mais alta categoria, bon vivant, filósofo do povão e mestre nas frases de efeito. Suas primeiras mamadeiras foram tomadas no terreiro de sua casa na favela do bairro de Jacutinga, em Mesquita, ao som das seletivas rodas de samba promovidas por sua progenitora, uma conhecida mãe de santo. Cresceu e não abandou a mamadeira.

No Céu, enquanto aguardava o veredito de seu destino — Céu ou andar debaixo. Foi festivamente recepcionado em um tremendo pagodaço, em um boteco celestial, freqüentado por uma galera da mais alta qualidade. A nata da fina malandragem. A vanguarda do samba que tinham partido para o andar de cima, estava ali. Ansiosos, todos falavam ao mesmo tempo. E o nosso Rio? Todos estavam ávidos por saber as novidades aqui da terrinha. Muita escola de samba nova? Algum destaque? E o jogo de bicho, funciona ainda, não é? Que saudades de fazer uma fezinha…

— Pô, meu camarada, que alegria ter você por aqui.

Nessas alturas, sentindo a desinformação, Dicró, se encrespou:

— Vocês não pegam a Globo por aqui?… Não??? … Que merda. Sabiam que eu tinha contrato com eles? Tava podendo. To chateado. Garçom manda mais uma branquinha aqui e uma loiraça super gelada. Depois dessa me deu mais sede.

Ari Barroso, Pixinguinha, Cartola, Vinícius e outros renomados compositores queriam saber sobre as novidades musicais.

Aí, Dicró chorou. Entre soluços, comentou sobre as novas composições existentes.

“Anos e anos copiando porcaria dos gringos e de repente o bicho pegou! Em compensação teve um compositor nosso, que pagou na mesma moeda. Escutem esta música e vejam se não tenho razão!”

Quando ele cantou o sucesso brasileiro que virou moda no mundo inteiro, os velhos compositores, boquiabertos, caíram duros. Tiveram um enfarte fulminante. Morreram pela segunda vez. Num cantinho, Fernando Pessoa, trêmulo, puxou um bloco de anotações e escreveu o título de uma nova poesia; “Musica brasileira, morreste também?”

Luiz Celso de Matos
Enviado por Luiz Celso de Matos em 04/05/2012
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