Filhinho De Papai (E De Mamãe)

Nascia o primeiro e único filho daquele casal de alta classe média. Bem cuidado, o pimpolho foi crescendo forte e saudável, logo vieram os primeiros palavrões, tapas no rosto da mãe, beliscões nos primos, tudo muito engraçadinho e até estimulado, afinal, “era coisa de criança”.

Como criança não para de crescer, logo chegou a idade escolar; o menino batia em um, tomava o lanche de outro, mandava a professora para lugares insólitos... Mas, segundo os pais: “era coisa da idade, fazia parte do aprendizado, era normal para aquela faixa etária...”

E lá se ia o garoto crescendo, e proporcionalmente ao seu desenvolvimento físico, aumentavam as queixas. Mas seus progenitores: “Isso é intriga de vizinho, maledicência de parente, implicância do professor...” O guri começou a “achar dinheiro na rua, ganhar presentes caros, trocar coisas com colegas...” Ninguém checava nada e enchiam o queridinho de mimos: “Meu filho vai ter tudo que eu não tive”, não cansavam de repetir.

Como o leitor já deve ter deduzido, na adolescência estávamos diante de um bad boy, o carinha era “o cão chupando manga”, mas papai e mamãe: “Isso é coisa da juventude, todo jovem faz isso, deixe o menino se desenvolver...” Quando o sujeito repetiu o ano pela primeira vez, “foi por que era hiper ativo”, na segunda, “foi déficit de atenção”, na terceira, “foi despreparo da escola”.

Quando já não tinha mais para onde crescer e com o “cangote mais grosso do que devia”, papi e mami diziam: “Não sei mais o que fazer com esse menino, já não suporto mais o que ele apronta, não sei a quem ele puxou, não sei como ele ficou assim, ele sempre teve tudo, eu desisto, é caso perdido...”

Numa fatídica tarde, após ter cheirado tudo e mais um pouco, o “de menor” invadiu a casa alucinado, queria dinheiro para comprar mais droga e pela primeira vez, sua mãe e seu pai tiveram a “ousadia” de dizer não...

A mãe foi sepultada no belo jazigo da família, o pai está vegetando num leito de hospital e o filhinho querido, cumpre pena numa penitenciária estadual.

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Infelizmente, esse é um “cenário” familiar que se reedita, cada vez com maior freqüência. Pais permissivos criam filhos sem limites, e essa lacuna pode ser preenchida de forma desastrosa. Os pais são os grandes educadores dos filhos, a escola e todo o resto são coadjuvantes, tentar inverter papéis e se eximir do que lhes cabe, é quase sempre, agendar dissabores.