DIVAGANDO SOBRE A VIDA

De algum tempo para cá, sempre que vou escrever vem-me à lembrança um filme sobre a vida de um escritor muito comentado, principalmente pela sua vida reclusa, já fora do ambiente literário, enclausurado que estava nos seus problemas de consciência.

Embora recluso, era ele alvo da curiosidade de alguns rapazes de um bairro pobre onde morava. E entre eles havia um que queria ser escritor. Lá pelas tantas os dois se encontram. Não vou narrar a história. Mas um conselho dado pelo escritor ao jovem deu-me o que pensar: “Primeiro escreva com o coração, depois com o cérebro”. Essa frase prendeu minha atenção, porque era assim que eu escrevia quase sempre.

Escrever para mim é quase mania. De vez em quando fico perdida em meio aos meus papéis. Assuntos escritos com o coração esperando uma correção ou o término.

E, cá para nós, dependendo do nosso humor, o tema primeiro toma rumo diverso.

Em um desses momentos fui buscar nos meus guardados, alguma coisa que servisse para uma matéria. E lá estava esta página que achei própria para o momento:

“Desde que o homem viu-se dotado da razão, como que acordando para a vida e para o mundo, começava aí sua luta pela sobrevivência: instintiva, pela alimentação e proteção; criativa, pelo seu desenvolvimento, um desabrochar para o aprimoramento, numa ânsia de melhorar e facilitar a sua existência.

Se compararmos o ser humano a um rio, aí teria ele uma grande lição de vida.

Nascido na simplicidade de um olho d’água, em meio à vegetação agreste, trava seu primeiro contato com a terra, umedecendo a sua volta, acomodando-se como uma pequena poça, ocupando o seu primeiro espaço, familiarizando-se com a natureza que o cerca. Seria essa a infância, um momento de conhecimento e aprendizado. Depois, a curiosidade de suas primeiras saídas, mais avançadas. Novas descobertas, mais força e ímpeto - é a adolescência.

Então, mais avolumado de conhecimentos e algumas mínimas experiências - a mocidade - lá vai ele encosta abaixo, senhor de suas vontades, traçando o seu caminho.

Desce inexperiente e imprevisível até o vale, complementando-se nessa trajetória, com influências externas – outras águas - e sem aquela força primeira que o impulsionava.

Adulto então, mais largo de experiências e profundo de conhecimentos, segue um caminho novo na planície, lutando com mil e um obstáculos de todos os tipos e das mais diversas formas, obrigando-o a algumas quedas, ou a voltas enormes, como a querer dividi-lo em mil pedaços. A uns cedendo, enfrentando outros, e, de uma ou de outra forma, passando, superando, crescendo, avançando, oferecendo a sua assistência às lavouras, abrigando inúmeros e incontáveis seres, que da sua presença se nutrem e vivem, dessedentando a todos, fertilizando tudo a sua volta, nesse caminhar incansável, na tentativa de levar ao fim do caminho, nessa experiência de vida, os detritos que lhe ficaram pela passagem.

Incessante, vai serpenteando tudo o que lhe parece intransponível, com uma sabedoria e uma persistência digna de exemplo.

Assim, deve o homem seguir a sua trilha, evitando os caminhos mais difíceis ou impossíveis, mirando-se no objetivo de seus propósitos, sem, contudo, apegar-se à idéia de que rasteja pela vida.

Isso, porque, a exemplo do rio, em todos os seus momentos, quer estreitos ou bem amplos, suas águas jamais deixaram de espelhar em sua superfície a beleza do céu e a grandiosidade da natureza que lhe assiste à volta, numa prova eloqüente de que, mesmo pequeno e sofrido, incógnito e machucado pelas pedras da vida, pode sublimar-se... E ir seguindo o seu caminho, buscando a sua meta, na certeza de ter dado o melhor de si, e sabendo que, a qualquer momento, irá lançar-se nas águas do Grande Oceano!”

L.Stella Mello- autora dos Romances "Eulália", "Amor sem fronteiras" e "A velha fazenda" - lstella2705@gmail.com

Stella Mello
Enviado por Stella Mello em 20/06/2012
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