O PROIBIDO DIARIO SEXUAL DOS HOMENS – XII – BALADEIRO

Ai brother, a parada tá sinistra! Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Se quéix, quéix, e se não quéix, diz!

É incrível a minha falta de criatividade pra começar estes textos da saga “Robertesca”. Mas me ignorem, se atentem ao Adão Roberto, por favor.

E o negócio já começa bem fervendo com a prima Flora fazendo uma proposta e tanto: - Tava pensando uma coisa. Tem um cara que estuda comigo que consegue colocar a gente numa balada que vai ter neste fim de semana, tá afim de ir? – Antes que ele pudesse dizer algo, Flora prosseguiu, deixando a coisa clara pra quem nuca tinha colocado os pés numa balada na vida. – Uns amigos meus bem gente boa também vão. E é bem legal, a música, as pessoas, você nunca saiu assim, de noite pra dançar né?

- Mas eu nem sei dançar!

Puta merda né Robertinho, tanta coisa pra você dizer, tanta desculpinha melhor pra dar, e tu me vem com uma cagada dessa, dizendo uma baita porcaria dessa? Cara se tu for rápido, acho que ainda consegue falar com a Maria Pia de lavar louça Finocchio na gravação da dança dos famosos no Faustão, e fazer umas aulas de dança com ela. O que tu prefere? Valsa? Vanerão? Samba? Vai se catar né Robertinho, quem é que saber dançar em balada? ... Mas ele não sabia disso, e foi a primeira coisa que a insegurança o mandou dizer.

- Cara, é só se mexer no ritmo, tu vai gostar, e uma hora tu tem que começar a sair, é massa! Tu vai e volta comigo, e teus pais não precisam saber exatamente onde vamos. Posso colocar teu nome na lista?

Agora entra aquela vinheta do “Você decide”, e alguém espera uma resposta com a mesma expressão que o Zé Wilker faz apresentando a cerimônia do Oscar na Globo.

- Tá bom, pode botar meu nome.

Agora entra Freddy Mercury (nem é assim que se escreve o Freddy, mas deixa) e canta “We are the champions” com a jaqueta amarela e comemora a decisão do nosso guri baladeiro.

A verdade é que ele estava se cagando por dentro, cheio de medo do que poderia acontecer. Não o Freddy Mercury, o Robertinho, claro. É normal que isso aconteça também, afinal é aquela coisa: Um mundo novo do qual você não sabe se vai gostar, praticamente uma nova espécie e criatura a se descobrir. É, pensando bem, isso é horrível! E não era só isso, nossa grande amiga televisão já havia construído um conceito de “balada” na cabeça do nosso amigo.

Ele via de vez em quanto em novelas, filmes e afins, aquele monte de gente se esfregando ( e não era pra sexo), passando com bebidas estranhas pra lá e pra cá, parecendo até um concurso de quem virava mais no chão. E claro, você era um alvo em potencial. Mulheres com aquelas roupas curtas e justíssimas (isso era bom), no entanto outras mulheres que não cabiam dentro de uma roupa daquelas, também a usavam, pareciam embaladas a vácuo, como as carnes do açougue. Uma música muito, mas muito alta, e sem nenhum sentido. Muitas luzes e ao mesmo tempo a falta de iluminação. E era aquilo ali. E sempre extremos: alguns personagens se divertiam muito, outros estavam sérios encostados no bar, de cara amarrada. E aí, qual personagem ele seria?

A realidade seria descoberta em breve, a parada era no sábado. E muitas dúvidas já o circundavam: qual roupa? Agiria sinceramente, ou faria de conta que era um exímio baladeiro para impressionar as pessoas, principalmente as garotas?

Ai ai Maria pia de lavar louça Finocchio, acho que já sabemos que a segunda opção é bomba né thico. No fundo ele sentia-se um hobbit na terra média, onde estava no seu mundo, nada de anormal, e mesmo assim sentia-se um estranho. E olha que ele não tinha nenhum anel, ou Smeagle ( nem é assim que escreve também, mas deixa tá).

E como já sabem, surpresas caem de penca para o Robertinho. O Armandinho (esse negócio de muito “inho” irrita um pouco, mas deixa também). Bem, o Armandinho... Inho, inho, inho, inho, inho, inho, inho (adoro me auto irritar) chegou na humilde residência do Robertinho... inho, inho, inho, inho, inho (me dei dois tapas na cara, juro), precisando conversar em particular com ele. Robertinho olhou bem a barriga do amigo, e não, ele não estava grávido tendo um parto, mas era o que parecia pela urgência e expressão da causa.

Sentados na cama, o Armandinho.. (sem palhaçada), respirou fundo, sua expressão de preocupação foi substituída por um sorriso de excitação: - Cara, olha só. Consegui entradas pra gente ir numa balada!

GAME OVER... Isso não podia estar acontecendo, não assim nesta sequencia tão perfeita, mas pra comprovar que realmente estava, vou até copiar e colar o trecho de Armandinho. Ctrl C + Ctrl V em ação:

“O Armandinho (esse negócio de muito “inho” irrita um pouco, mas deixa também). Bem, o Armandinho... Inho, inho, inho, inho, inho, inho, inho (adoro me auto irritar) chegou na humilde residência do Robertinho... inho, inho, inho, inho, inho (me dei dois tapas na cara, juro), precisando conversar em particular com ele. Robertinho olhou bem a barriga do amigo, e não, ele não estava grávido tendo um parto, mas era o que parecia pela urgência e expressão da causa.

Sentados na cama, o Armandinho.. (sem palhaçada), respirou fundo, sua expressão de preocupação foi substituída por um sorriso de excitação: - Cara, olha só. Consegui entradas pra gente ir numa balada!”

Viu? Pois é! E não havia a mínima chance de ser a mesma balada que a prima acabara de convidar.

- Quando é?

- Na sexta. Vai ser aqui mesmo, se não eu nem ia né. Vamos cara, pensa, nossa primeira balada. Daí você diz que vai dormir lá em casa, e eu digo que vou dormir aqui. Pronto fechou, a gente na verdade dorma na casa do Augusto e tá tudo certo.

Na verdade já estava tudo planejado, mesmo que ele dissesse não. E claro, a probabilidade de dar merda, era altíssima, ou seja, nada de anormal na vida deles. E só pra constar: Você nunca ouviu falar do Augusto, mas vai passar a ouvir agora, era um novo amigo deles que eu inventei agora. É um garoto que os pais não estão muito aí, e vai safar estes outros dois meninos.

Robertinho era o cara, duas baladas de uma vez só! Seguidinhas. E vale lembrara que ele é de um tempo em que balada era uma música romântica de batida forte... Mas ainda estamos falando da nossa atual balada. E o fato é que Robertinho aceitou o convite! Já que estava indo pro inferno, nada de mais dar um abraço no capeta! Robertinho ia a duas baladas seguidas!

E agora entra Freddy Mercury com a jaqueta amarela e diz que aquilo tudo era uma pegadinha! Mentirinha!!!

Mas não, era a pura realidade. E empolgação a parte, já me perguntei o que uma balada (essa palavra tá ficando insuportável) tem a ver com a vida sexual masculina. Mas não deixemos a ignorância corromper todas as partes. Bem sabemos que lá é local de caça!

Uhhh, a semana passou rápido, e a sexta feira estava beijando os alucinados do mundo. Os pais de Augusto estariam fora, apenas uma irmã mais velha, bem gente boa estaria em casa. (Tudo bem, fui repetitivo nessa coisa de irmão mais velho e pais fora de casa).

Robertinho parecia uma garotinha louca na loja de doces. Não sabia com qual roupa ir. Armandinho já arrumado, o esperava no meio do caminho entre as duas casas, devorando o último Trident do pacotinho de tão nervoso.

Por fim Robertinho escolheu algo simples, mas estiloso. Uma camiseta de listras, uma calça jeans preta e sapato preto.

Deixaram suas coisas na casa de Augusto, e partiram. Um novo mundo estava pra ser descoberto, e os 3 pareciam ter uma placa escrito: “É minha primeira vez aqui.”

Chagaram cedo, porque iriam embora cedo. Mas chegaram em tempo suficiente de ver gente já bêbada na porta, poça de vomito pedindo pra ser pisoteada, lixo no chão, garrafa quebrada e gente rindo demais sem ter porquê. As órbitas dos olhos deles estavam no nível máximo de abertura. Alguns conhecidos, mas a vergonha era demais pra falar algo com alguém. Sacaram seus bilhetinhos, as entradas e um segurança os encarou de cara feia. Sim, porque segurança risonho to pra ver né. Com um súbito mal de Parkinson nas mãos entregaram e entraram, e logo o que eles acharam que era um assédio sexual aconteceu: um outro cara os parou e começou a passar a mão neles, era só uma revista. Livres, agora viam como realmente era aquela vida. Quanta gente cuzona e se achando reunida num só local. Todo mundo querendo a mesma coisa, todo mundo querendo se divertir, e a maioria também querendo pegar alguém... Mas a sociedade é mesmo uma merda né, e ao invés de deixarem isso explicito, se ajudarem de certa forma, enclausuravam-se no seu ego, trancados pela chave do orgulho... Porra falei bonito agora, não pede pra repetir.

Luzes, ao mesmo tepo que o ambiente era mal iluminado, muitas luzes batiam e rebatiam, rebusqueavam e coisa e tal pra lá e pra cá. E um mais louco que todo mundo, num pedestal com fone de ouvido, parecia amassar pão com fone de ouvido. Tudo bem, era o DJ, e a música... Haaan, isso é música? Ok, desculpa.

As mulheres eram todas Deus do Olimpo, impossíveis de se alcançar. Imortais e soberanas. Mal conseguiam se mexer e seus vestidos colados e muito curtos. Conforto pra que né? Deveriam distribuir remédios de dor de cabeça e para o estomago nestes lugares, pois elas estavam sempre com uma cara de desgosto, muito sérias e fazendo cara de nojo pra tudo. Depois morre sozinha na vida e não sabe porquê. Afinal pra sociedade é feio você mostrar suas verdadeiras intenções e sua diversão.

Sem querer, mais perdido que Azeitona em boca de banguela, Robertinho chegou perto de uma mulher e ela logo foi dizendo: - Não quero nada com você moleque, sai daqui.

Robertinho se assustou, mas mandou:- E se eu quisesse algo com gente morta ia no cemitério. – Os três garotos riram muito sozinhos, foi quando relaxaram um pouco mais. Não beberam nada, apenas dividiram uma latinha de coca cola. Essa pobreza me consome. Andavam devagar, só observando muito atentos. O comportamento masculino também era curiosos: os caras faziam uma espécie de meio sorriso com a boca, dançavam devagar e nunca largavam o copo. Olhavam com o queixo levantado e desciam o queixo e o olhar devagar quando achavam o que olhar.

Uma garota, pouco mais velha do que eles, não parava de mexer nos cabelos, fazer biquinho, inflar os peitos. Sim, elas davam uma empinada em posição de xícara, que era impossível não causar algum dano a coluna. Fazia caras e bocas de sensualidade, foi então que Augusto resolveu tirar uma onda com a cara da guria: - Será que esse urubu aqui, tem chance com você?

- A cara de nojo dela chegou ao level 100: - Aff, claro que não, sai daqui.

- Então beleza, vou procurar outra carniça! – E saiu dali antes que apanhasse, com a própria risada fazendo coro abafado com a dos colegas.

E era isso: um grande encontro de pessoas que queriam se comer, mas no qual ninguém queria ceder porque era chique demais, bonito demais, sei-lá-o-que demais pra ceder e admitir isso.

Todo mundo esbarrava neles, elas passavam com uma pressa dando de ombros, eles pareciam ser parte da decoração, até que um cara trêbado, sim, mais do que bêbado chegou perto deles e deixou sua garrafa de qualquer coisa lá, cair no chão. Antes de tirar os olhos da garrafa ele vomitou no sapato de Robertinho, enquanto todos em volta se distanciavam do pudim de cachaça, menos eles. “Banditansos”. O cara fixou o olhar em Armandinho e disse: - tu quebrou minha garrafa por que? Seu filho da puta, vou te matar!” e partiu com um soco torto que o garoto conseguiu desviar...

Neste momento entrou Freddy Mercury já de pijamas e sem microfone, e disse: caiam fora garotos, isso é encrenca das brabas!

E eles saíram dali, enquanto alguns outros impediam o cara. Foram ao banheiro, como um bando de mulherzinhas juntas. E lá sim era escroto. O numero de coisas não identificáveis no chão triplicava. Parecia recepção de pronto socorro, cheio de bêbado , os mictórios atolados de chicletes, e papel toalha pra que né? Eles ficam tão melhores picados sobre a pia. O mesmo caso aplica-se ao papel higiênico: eles ficam tão melhores socados no vaso sanitário, ou molhados no chão. E s cabines, em cada uma delas, vários contatos para comer fulano, ciclano, propagandas mil, desenhos espetaculares de pintos de todos os tipos e até mesmo uma prece da serenidade. Numa destas cabines um amigo ajudava o outro a vomitar, enquanto o mais próximo a provada prometia cegamente: eu nunca mais vou beber, nunca mais vou beber. Resumindo: muito nojento. E no mictório sem divisão, os meninos nem puderem fazer comparações. Eis que na sacudida final pra guardar o bicho de volta na calça, entra o inimigo vomitão do Armandinho, querendo socá-lo outra vez. Os garotos se apavoram mesmo o cara estando sozinho, ele escorrega mas não cai e parte atrás deles. Notam um monte de casalzinhos que se formou. A menina chamada de carniça, parece que aprendeu a lição, pois é o quinto diferente que ela beija depois do acontecido. Os garotos saem correndo por ta afora e continuam. Os olhos e ouvidos sentem uma pancada pela mudança de ambiente e quase são atropelados na rua por um carro desconhecido. O carro do pai de Robertinho.

- minhanossasenhoraosfracosfudidoseoprimidosdabaladapodre!!! Só faltava essa! – Mas era o irmão mais velho do garoto com o carro emprestado do pai.

Eles entram, e ele parte falando, antes que eles tivessem mais algum troço:- Eu vi vocês lá e vi o cara atrás de vocês. Que papelão hein rapaziada. Agora me fala, o que eu ganho não contando nada disso pras mamães e papais?

FILHADAPUTICE DE IRMÃO MODE ON!

Ainda bem que eram bastante cúmplices, e ele apenas os levou para a casa de Augusto sem mais nada perguntar, afinal ele já havia passado por essa idade.

Antes de desembarcarem do carro, ele disse: por favor, tomem um banho, vocês estão fedendo muito!

E assim foi, pé a pé, cutucando de leve o assoalho da grande casa de Augusto, eles chegaram, tomaram um banho e foram dormir. Tinha sobrevivido, era só nisso que Robertinho conseguia pensar. Talvez, quase certo que um dia voltaria áquela coisa toda, mas demoraria. Se perguntou: será que não é aquele local especifico, será que não são aquelas pessoas? Não importava, ele não tinha experiência e maturidade o suficiente ainda, e era maduro o bastante pra ter noção disso.

No entanto era só o começo, tem a balada da prima. Minha nossa, e agora? Será que acompanhando de uma mulher as coisas seriam diferentes? Será que o outro local, em outra cidade, seria melhor, mais legal? Deu né Robertinho, to cansado de digitar interrogação! Fato é que já tá tudo preparado pra você ir junto, querendo ou não. A prima deliciosa vai te levar pra passear, e agora só o que você tem a fazer é fechar os olhos, esperar o tempo passar e suportar mais um pouco deste mundo. Que merda, merda em dobro!

Escutou o galo cantar? Claro né trouxa, e se escutou já faz tempo, ou tu acha que Mrs. Robert acordou cedo? Logo acordou, e se arrumou, já se jogou para a casa dos pais, onde ninguém desconfiava de nada, só o irmão o recebeu com um bom dia bem aberto, bem desconfiável. A prima por sua vez, deu um bom dia maior ainda. Arrumaram as malas e foram pra rodoviária.

No guichê comprando um bilhete, advinhem? O cara bêbado que queria bater no Armandinho! Robertinho (inho inho iho, eita coisa) reconheceu de cara, mas ele... Não lembrava nem de que planeta era né, e até sorriu.

Lado a lado, assistindo as pessoas procurarem o assento 32 ao lado do 4 no ônibus e girando as saídas de ar condicionado sobre seus lugares, Robertinho desabafou: - Flora, to com medo ir nessa balada.

E então Freddy Mercury entrou escovando os dentes no corredor do Reunidas e chamou Robertinho de perdedor!

O guri explicou a epopeia da noite passada a prima, e ela foi um poço de doçura (de verdade): - Eu te entendo sabe, mas você não pode achar que todo lugar vai ser assim...

E conversa vai, conversa vem, nosso pequeno monte de merda controlou-se e dormiu até chegarem. Pararam na casa daquele tio peludo e chato sabe? Aquele que perguntou das namoradas no almoço de domingo e tal e coisa, afinal ele era o pai de Flora. O dia passou muito rápido e a noite chegou bem linda de lua minguante. Diferente de todas as garotas, ao invés de passar chapinha, Flora deixou suas madeixas bem armadas, muito selvagem, sexy a dar com os pés.

Sua roupa era legal, mas meio machinha demais, e Robertinho foi de camiseta branca, calça preta ( a mesma de ontem) e All Star preto, aquele classicão. Tá, o sonho de vocês agora é saber o feeling da moda com o Robertinho, mas deixa.

Uma amiga, num carro já cheio parou pra pegá-los. Um beijo nos pais, um beijo nos tios e “arrevouiar”, kkkkk, que ridículo, e que preguiça de pesquisar como se escreve certo.

No hall do ambiente bem unusual, e muita gente de All Star. Cabelos coloridos e muita maquiagem. Uma gente muito magra, meio esquisita pra ele.

- Pega teu ingresso. – E ele pegou!

Entraram, e ele já esperava a revista, ahhhhhhh garoto esperto! Olhou para um lado e duas garotas beijavam-se. Uma delas era realmente uma linda garota, e a outra parecia um menino de peitos, eca! Olhou para frente e uma grande faixa com as cores do arco íris iam de um pilar a outro! Ah meu Deus, nãooooooooooooooooooooo!!!! Era uma balada GLS!

- Flora, isso é uma balada gay? – Seu apavoramento era visível a quilômetros de distância.

- Claro, eu achei que você sabia!

Nãooooooooooooooooooooooo!!!!

Por que Deus? Por que você coloca esse rapazinho em tantas roubadas? ... Pra ele aprender né? Ah, tá bom!

- Por que você não me falou Flora – Tava bem novela mexicana o clima por parte dele.

- Você não perguntou, e eu achei que fosse mais esperto!

E se ontem tinha sido horrível, num mundo que ele “conhecia”, “fazia parte”, como seria num mundo ode ele era um completo desconhecido?

Ele iria no banheiro e todo mundo ia ficar olhando seu pinto, falando abertamente, as garrafas não quebrariam no chão, se transformariam em borboletas, as pessoas não vomitariam, jorrariam paetês... Preconceito dá o fora daqui! No entanto, algo positivo ele também notou: a questão nojo e “seachismo” era menor. A música era a mesma coisa, ao menos naquela ocasião. E como boa prima, sentaram numa grande mesa com puffs e Flora logo explicou muitas coisas enquanto Robertinho as via com seus olhos.

Várias meninas se beijando, e vários meninos também, aquilo era bem estranho.

- Aqui nós podemos fazer isso, sem sermos recriminados. – Começou Flora em tom de narração de comentário do Discovery Channel.

Vários rapazes passavam pela mesa encarando Robertinho, puxando assunto, alguns safados, na cara dura mesmo. Ele tremia de medo daquela espécie, e a prima afugentava todos, até mesmo as coisas indefinidas que ele não conseguia distinguir se era homem ou mulher. Porque sim, você sabe que estas coisas existem. E falando nisso, umas 3 vezes ele foi puxado de seu puff por uma baita drag montada, igual aquelas que ele via em vídeos ( que vídeos esse menino anda vendo?) e na TV. Ele não conseguia reagir, era um pato mesmo né, a salvação era a prima.

Um (a) garoto(a) lhe ofereceu uma bala, e ele quase aceitou, a prima quem arrancou de sua mãe antes que pudesse colocar na boca e devolveu ao “doceiro”. Ele era simplesmente um perigo, e cometia coisas erradas todo o tempo, o que o fazia afirmar que realmente não deveria fazer nada, tinha que ficar ali quietinho, se possível sumir, ou simplesmente se esconder no bolso de Flora.

Mas como era possível, elas, a prima, as amigas e as amigas (os) estarem se divertindo tanto? Ele não conseguia entender, ou talvez não conseguisse aceitar. Eles beberam algumas cervejas, as famosas “ices” e lhe ofereceram, ele recusava tudo.

Uma mulher lindíssima passou, e lhe chamou, discreta, Flora deu a maior força: - Vai trouxa, ela é linda e tá afim de você!

Oh Deus, como você é bom, e contraditório: logo numa balada GLS ele ia pegar alguém hetero?

Sim, Flora explicou que muitos hetéros iam. Gostavam do ambiente, gostavam da música, gostavam das pessoas, enfim: gostavam, e Robertinho estava com sorte. Tremendo mais do que baiano no inverno de Porto Alegre, ele levantou, pegou na mãe dela, e deixou-se levar. Ela chegou bem perto. (que olhos lindos, ela é mais alta, que perfume gostoso) Ele não fez nada, apenas levemente abriu a boca e esperou de olhos fechados´, indo para frente muito devagar ao encontro dos lábios dela...

Ei garoto, é isso aí. Por favor Freddy Mercury, entre agora e cante com todos nós “We are the champions”, porque finalmente este garoto aprendeu algo, era isso mesmo, se deixar levar. Não forçar nada, nem tentar ser alguém que ele não era, só deixar as coisas acontecerem dentro do clima! Uau...

No entanto, antes que Freddy Mercury soasse alguma nota da música, Flora deu um pontapé nele e puxou Robertinho de seu quase transe-transa.

Uma galera rindo na sua frente. Flora contendo as risadas próprias: - Cara, você é mesmo muito trouxa! Isso aí também é um homem!

O travesti, olhou de cara feia para ela, e respondeu acendendo um Marlboro vermelho: - Por pouco tempo querida!!! – E foi esvoaçante em seu vestido de seda com motivos de onça.

Pronto, se a vergonha tinha uma face, era a de Robertinho. Um terço da balada GLS tinha ele como o Bozo da noite, que maravilha! Flora fizera de propósito para testá-lo e também para rir um pouco. Ele jurava que era uma mulher mesmo, era muito perfeita! Que imbecil!

- Vou no banheiro! – Foi só o que conseguiu dizer sem olhar pra ninguém. Seguiu placas indicativas e ignorou as vozes que diziam: Oi delicia. Fala mona. Ai que delicinha. Olha que titi linda, vem pra mim... E coisas ainda mais escrotas, inimagináveis! Teve de ignorar também os 3 beliscões e/ou pegadas na bunda que ele levou.

“Não reaja, você é o estranho!” “Não reaja, você é o estranho!” “Não reaja, você é o estranho!”

Ficou repetindo até chegar. Teve muito medo do banheiro, mas estava vazio. Fez xixi o mais rápido que pode, nem sacudiu, gotas molharam a cueca azul e saiu correndo, antes que algo pior pudesse acontecer. O banheiro não tinha cabines com privadas e ele imaginou o porquê. Via claramente do outro lado o banheiro feminino. Ambos eram sem portas. Pra que portas também, se ninguém tá interessado no banheiro da frente mesmo! Lá, no feminino tinha cabines, e duas seguranças, pra tirar o povo, ou melhor, a pova que se enfiava pra dar uns pegas. Cada corte era uma vaia de quem estava no recinto.

Na entrada, uma espécie de hall do banheiro, um sofá. Ele sentou ali sabe se lá pra quê. O lugar estava vaio, mas foi ele sentar e logo apareceu um rapazinho muito magro de cabelo escorrido e lápis no olho: - Oi, vamos conversar. – Não era uma pergunta, era o próprio inicio da conversa, já sentando ao lado dele.

- Não, obrigado. – Robertinho parecia estar com ânsia de vomito, mas era medo e insegurança acumulados.

Aquilo era um campo minado, essa era sua conclusão. Cheio de gente querendo amar, pegar alguém... Só que declarando isso abertamente, ao contrario da “outra balada”. As pessoas não tinham vergonha de dançar a valer, mostrar que estavam se divertindo de verdade, e que não tinham vergonha daquilo.

Ao chegar de volta a mesa, vivo, ouviu inda o final de uma conversa entre a prima e um amigo que estava com eles: - Mas ele é muito tímido. È bem gatinho, mas é muito envergonhado.

- Não, o problema dele não é ser muito tímido, é ser hetero!

O cara fez uma expressão de espanto e voltou a sentar em seu lugar, Robertinho mais sem graça impossível.

De uma coisa ele tinha certeza: era um garoto pegável! Ao menos parecia, com tantas requisições, ou será que essa gente tava assim tão morta da sede?

Robertinho acordou em seu puff as 4 da manhã coma prima dizendo que iam embora. Ele deu um grito, e colocou as mãos na calça. Dormir em uma balada gay? Um descuido desse, como? Estava de calças, o zíper estava fechado, estava tudo normal, e ele morrendo de medo, pois sabia que era uma presa fácil.

Na saída, o travesti de oncinha o atacou e deu um selinho rindo, e saiu correndo: - tchau gato!

Ahhhhhhhhhhhhhhh, vagabundafilhadaputadesgraçadeasemvergonha!!! A galera riu mais uma vez, e ele comprou uma água tônica e ficou lavando os lábios até chegarem de volta na casa dos tios.

Sim, sem querer, e mesmo que um selinho, ele já tinha beijado um homem.

Não conversaram, e com o dia quase raiando, foram dormir. E agora era melhor descansar de verdade, sua batalha baladeira havia acabado. Os amigos gays da prima gostaram dele, e ele também havia gostado deles, eram gente poxa!

O mundo era aceitável, na verdade normal. Mas ele preferia esquecer essas duas últimas noites. E sábado que vem tiha mais festa, o aniversário de Armandinho. Tinha de convidar alguém. Ele já sabia quem!

E agora entra Freddy Mercury enrolado na toalha e sem bigode cantando “Love of my life” baixinho, apagando a luz pra dupla de primos ter bons sonhos.