777 - Encontrando o caminho

Não, não encontrei deus! Ao contrário do que muitos pensaram essa proeza ainda não me aconteceu. Entretanto, cheguei perto, muito perto de entrar em total desespero. Voltando da casa da minha querida irmã, que não é longe da minha, porém tem um caminho muito sinuoso, com muitas subidas e descidas, encontrei uns pregos novos espalhados pelo chão. Pensei: bom, pregos são sempre bem-vindos.

O ato de abaixar para recolher os alfinetes de urso foi o suficiente para me desconcentrar e desorientar minha bússola interna. Embora minha confiança não tivesse ainda sido abalada, percebia que algo muito ruim estava pra acontecer. Enquanto andava, dessa vez como que vagando lentamente para um ritual de sacrifício, olhava esperançoso em busca de um ponto de referência que me fosse conhecido. Infelizmente nada encontrei.

Depois de duas estranhas esquinas, iniciou-se a fase de angústia e a introdução a um desespero silencioso, agravado pela falta de sinal no celular. Não achei que pudesse passar por aquela sensação de estar completamente perdido novamente, principalmente em minha cidade natal.

Antes, meus passos eram acompanhados por crianças correndo atrás de pipas e cães correndo atrás das crianças, algumas mães nas calçadas fofocando e até um caminhão de entregas. Agora, não escutava mais nada além de uma voz interna me dizendo: seu tolo!

Estava ficando cada vez mais frio e deserto. Os medos de um típico morador do Rio já haviam desaparecido. Talvez eu desejasse ser abordado por um assaltante ou estuprador, pelo menos eu teria algum sinal de civilização, o que garantiria não ter ido para outra dimensão. Talvez minha única solução fosse encontrar um traficante e começar a me drogar. Imaginei se era assim que se formavam mendigos e viciados. Era a única saída para pessoas perdidas e sem a família. Se drogar e viver pelas ruas desconhecidas. Talvez fosse seu carma.

No alto do cume, avistei a avenida conhecida, meu alvo, porém de uma vista muito diferente, parecia da televisão. No topo, avistei um penhasco e pensei em pular, se fosse um sonho eu acordaria e se não fosse, ficaria livre daquele tormento, mas me contive.

Parando e me obrigando a refletir como um ser racional que tento ser, analisei que não fazia sentido em pular. Assim, busquei um ponto em comum e fiz alguns cálculos baseados em uma trigonometria simples. Concluí que estava mesmo muito perdido.

Mas, decidi seguir pela única rua que parecia me levar à avenida, embora que, se conseguisse encontra-la, sairia bem longe da entrada para minha casa. Mas, não tinha outro plano melhor.

Ia andando e pensando: agora já sei o que vou cobrar dos candidatos a prefeito nessas eleições: placas, sinalização, miniguias da cidade intitulados: como chegar? E em cada esquina, computadores com acesso ao google maps. E ligações gratuitas para o: "777 - achando o caminho". Mesmo que eu encontrasse o 666 estaria feliz, pois o negócio é não ficar perdido.

No tempo que me distraí com minhas divagações, o tempo ia se abrindo e começaram a aparecer pessoas e eu senti vontade de ir falar com elas e contar minha história. Deu vontade mesmo de falar com elas e contar toda minha história e de como é importante ter pessoas ao nosso redor. E de ser grato por estar vivo e viver nesse planeta tão bonito com tantas pessoas.

Em pouco tempo, avistei a tal rua que levava à avenida e percebi que esta apenas em uma rua paralela. Consegui falar com minha irmã no celular que só fez rir da minha cara. Me senti mesmo um tolo, mas aprendi uma valiosa lição: nem sempre achar algo na rua é sinal de sorte!

Prima
Enviado por Prima em 17/07/2012
Código do texto: T3782991
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