Trapo Humano

Hoje quero falar de um poema que encontrei na lata do lixo onde eu me alimentava. Quando aqui cheguei sem honra nem muito aplauso, derrotado e humilhado pela batalha perdida para os homens e para o mundo, não havia notado que a luz que minha Mãe havia me dado estava aqui, bem ao meu lado. Mas o tanto que eu queria já teria se transbordado num gole e outro de trago. Na escuridão que tinha me transformado, aos poucos me consumia. Então a cada momento e a cada dia eu bebia. 
Perdendo a noção do tempo e do meu espaço Sagrado. Às vezes alguém me dizia no fundo de minha alma, “bebe mais um pouco desgraçado”, te quero aqui comigo. Era a voz do fundo do poço que a todos ela aprecia. Chegava estar encantado com tanta poesia, e cada vez mais eu bebia. Chegou um certo momento que eu não sabia se era noite ou era dia. As horas passavam, os meses passavam e os anos se arrastavam nesta longa, progressiva e incurável fatalidade de minha vida. Meu rosto e meu corpo se transformavam que nem o espelho acreditava. Então a cada dia se quebrava. Sentia em meu coração que a vida para mim já não mais prestava e que em raros momentos de Luz para ela eu voltava. Assim o tempo passou e a cada dia, eu era mais forte, achava que podia enfrentar até a morte. Ela andava ao meu lado, segura, serena, voraz, trilhando sempre comigo, tomando conta de mim em cada passo, para trás. Mas enquanto eu bebia, o mundo progredia e a voz dele me confundia. A cada passo que eu ia dois eu voltava. A cada passo que progredia dois eu regredia. Não havia intenção de parar. Não era obrigado. Então só pensava em me embriagar. Nada podia me segurar, eu era forte eu era valente, podia o mundo enfrentar. Foi quando neste momento de dor e sofrimento que cai até o fundo do poço. Escorregando nas paredes lamacentas do meu destino. Foi ai que o brilho do Sol me fez enxergar e encontrei onde me agarrar. A mão de Deus estava presente e começou a me iluminar e quando isso aconteceu a luz do meu coração se acendeu. Então a vida começou a florir, meu rosto, meu corpo começaram a sorrir. E as portas dourados do tempo começaram a se abrir. E foi por essa porta que entrei e me agarrei com unhas e dentes e tentei reformular minha vida corrigindo tudo que errei. Por isso neste momento, neste exato momento em que escrevo eu me sinto bem. Sinto em meu coração que alguma coisa mudou e as vozes e as forças que me afundavam a partir desse momento começaram a se dissipar. Não ouço mais.
Sinto o aroma das flores, vejo o Sol nascer, as plantas florescerem. E o gosto amargo da destruição da desgraça e da desunião ficaram lá embaixo no fundo do poço. Simplesmente adquiri o gosto pela vida. E uma sensação bem mais forte que é poder dizer com alegria em meu coração: “ hoje eu não bebi”.
Bruxo Yahoo
Enviado por Bruxo Yahoo em 27/07/2005
Reeditado em 18/06/2007
Código do texto: T38130
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