EM FEVEREIRO TEM CARNAVAL

EM FEVEREIRO TEM CARNAVAL –Maria Teoro Ângelo

Dizem que o ano começa mesmo só depois do Carnaval. Janeiro , tempo de férias escolares, promove uma migração de pessoas, que saem de seus lugares de origem em busca de praias e lugares diferentes. As cidades ficam desfalcadas de seus compradores que vão gastar bem longe e o movimento do comércio diminui. Lugares turísticos se fartam com a população flutuante, mas depois amargam o fim da temporada. É a lei da compensação.

Por essas e outras ando louca para que chegue o carnaval. Muito mais pelas outras do que por essas. É que sempre associava carnaval com alegria. Não que eu fosse uma freqüentadora assídua dos bailes. Nunca vesti uma fantasia nem demonstrei o ânimo pulando pelo salão.

Quando menina e mocinha nem ia aos bailes. Meu pai dizia que carnaval era contra os seus princípios. Vendo as amigas se preparando para os bailes e eu com uma vontade louca de ir, não entendia por que uma pessoa podia ser contra as chances de ser feliz.

Hoje entendo. Carnaval sempre foi sinônimo de exageros. No comportamento, nos trajes, parece haver uma permissividade e isso é perigoso. Meu pai queria só nos proteger, a ele e a mim, mesmo que naquele tempo tudo fosse mais casto e puro e risonho.

As famílias se encontravam, moças não iam sozinhas nem aos bailes comuns, quanto mais aos de carnaval. A maioria ia para brincar, se divertir, pular até o sol raiar. Muitos jovens morriam cheirando lança-perfume, permitido na época. Os engraçadinhos gostavam de atirar nos olhos das pessoas o éter perfumado e doía. As pessoas usavam uns óculos de plástico arrematados com veludo colorido e presos à cabeça por uma fita elástica.

Havia ainda o sangue-do-diabo, um líquido numa bisnaga de plástico que a criançada adorava. Tingia a roupa de vermelho e depois ia sumindo. As notícias do carnaval me vinham mais pela revista O CRUZEIRO, que meu pai assinava e onde saíam as fotos dos concursos de fantasias e foliões nos bailes do Rio de Janeiro. O rádio tocava sem parar, a partir do dia dois de janeiro, as marchinhas carnavalescas que eu aprendia cantar.

Quando pude ir aos bailes, eles já não significavam mais o que haviam representado lá atrás. Na vida é assim mesmo. A fartura e a disponibilidade do hoje não fazem a média com aquilo que foi essencial um dia e que não tivemos. Nada , mesmo em excesso, pode suprir o que quisemos tanto, pedimos tanto e não nos deram por um simples capricho, um egoísmo ou uma má vontade.

Hoje os bailes de carnaval estão em decadência. Carnaval significa escolas de samba. Até gosto de ver, acho de bom gosto as cores , os brilhos e a criatividade. A ousadia e os exageros estão cada vez maiores e os perigos também. Não se ouve falar de mortes por lança-perfume, que continua rolando por aí na contravenção. Acho que são falsificadas e perderam um pouco da sua ação fatal. Mas outras drogas são consumidas e a bebida começa a ser usada desde cedo pelos jovens. Mesmo não vendendo álcool para menores, os outros compram e eles não ficam sem beber. Se ao longo do ano jovens se matam no trânsito, no carnaval os acidentes são esperados e temidos.

Acho que estou ficando mais realista. Carnaval é hoje sinônimo de preocupação. Mesmo os desfiles das escolas são uma variação sobre o mesmo tema. Ver uma é ver todas e a campeã é escolhida pela sorte.

Mesmo assim ando louca para o carnaval chegar e ele ainda é sinônimo de alegria. Não a alegria passageira dos quatro dias que viraram dez ou mais. A alegria que espero ter é que os jovens não se excedam, que não morram, que se protejam contra as doenças,que evitem as drogas e a bebida, que aproveitem a vida sem exageros, com responsabilidade e que busquem dentro de si os motivos para a felicidade, de cara limpa, coração aberto e olhos que possam ver que a vida é muito mais do que o barato que a bebida ou a droga dá por um momento e depois pode tirar tudo para sempre.

Lillyangel
Enviado por Lillyangel em 15/02/2007
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